quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O BRASIL AGORA TEM DEFESA


A presidenta Dilma Rousseff não poderia ter sido mais feliz na decisão de afastar Nelson Jobim de sua equipe ministerial e, mais especialmente, na da escolha do seu sucessor, o diplomata Celso Amorim.

Primeiro porque, com Jobim, não era possível dizer que o conjunto de seus ministros constituísse uma equipe. Ao contrário, Jobim já provara que destoaria desde a pré-história do governo Dilma, justamente pela mesma atitude que, agora, entornou o caldo e provou que ele precisaria ser afastado imediatamente. Já eleita a nova presidenta, o então ministro do governo Lula foi pilhado em constrangedor flagrante com o vazamento de informações pelo Wikileaks. Ninguém menos que o embaixador norte-americano no Brasil, Clifford Sobel, informava ao seu governo que Nelson Jobim, com quem costumava privar de conversas informais, tinha por hábito falar mal do Itamaraty, classificando-o como uma “cidadela antiamericana”. Além disso, dizia que o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães odiava os Estados Unidos e trabalhava para “criar problemas” na relação entre os dois países (O MINISTRO X-9, de Leandro Fortes, postada neste blog em 30 de novembro de 2010). O mais grave é que Samuel era também ministro de Lula, ocupando então a Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Soltar a língua para atentar contra integrantes do próprio governo de que faz parte não é, portanto, uma tentação recente do agora ex-ministro da Defesa. Como o título da matéria de Fortes já sugeria, Jobim estava mais próximo do governo estadunidense que do brasileiro, do qual era (veja-se bem!) Ministro da Defesa.

Agora, após revelar importante pista das razões de sua falta de solidariedade aos governos de Lula e Dilma, declarando-se eleitor de José Serra (contra quem Lula disputara o pleito de 2002 e a atual presidenta, o último), Jobim sente-se à vontade para falar em trapalhadas do atual governo, com críticas até de caráter pessoal, como as que culminaram na fatídica entrevista, que está prestes a sair, na revista Piauí, ao caracterizar Ideli Salvatti (da Articulação Política) como “fraquinha” e arriscar que Glesi Hoffmann (Casa Civil), sequer conheceria Brasília.

Não bastasse a postura que beirava o achincalhe, a atitude do ex-ministro ainda se mostrava mais perigosa na medida em que, dirigindo as três armas das Forças Militares, afigurava-se como um franco estimulador de dissidências em um grupamento que só recentemente vem dando sinais de compromisso democrático. E, além disso, em que é inconteste que ainda remanescem vozes destoantes e de inconformismo com governos sucessivos que já beiram uma década de liderança do PT e, mais especificamente, tendo em sua direção agora uma ex-militante de organização que, na clandestinidade, lutou contra o regime militar.

Na verdade mesmo, preferiu afastar-se da condição de Ministro da Defesa, optando pelo “cargo” de entrevistado dos principais órgãos da mídia oposicionista, na qualidade de crítico principal do governo de Dilma Rousseff. No deserto de vozes conceituadas entre os opositores e, ainda mais, de temas que possam ser esgrimidos para desqualificar a Presidenta e seu governo, nada seria mais bem recebido por essa mídia partidarizada que os depoimentos de um ex-ministro.

Daí, a perfeição da manobra política da presidenta Dilma. Não deixa de, ao homenagear Celso Amorim com o convite, desagravar Samuel Pinheiro Guimarães, personagem pública inatacável e que fora a segunda figura em importância no Itamaraty quando Amorim estava à frente da Pasta, antes de assumir a Secretaria Assuntos Estratégicos do governo Lula.

Mais que isso, se recompõe a sua equipe, extirpando o que comprometia a sua unidade, marca ademais um oportuno gol, colocando à frente do Ministério justamente o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, um dos responsáveis principais por, conduzindo uma bem sucedida política externa, revelar ao mundo a proposta de governo que caracteriza esse decênio de governos Lula-Dilma.


Fernando Tolentino

Um comentário:

  1. Olá Tolentino,
    O Migalhas de ontem postou os seguintes comentários sobre Jobim:
    "Diz a Folha de S.Paulo que o ministro Jobim, em entrevista à revista "Piauí", que chega às bancas amanhã, volta a seu mau e velho estilo ao falar de suas colegas de Esplanada : "Ideli é muito fraquinha" e Gleisi Hoffmann "nem sequer conhece Brasília". Dilma, hoje pela manhã, está mordendo os dentes ; não vê a hora de trucidar o ministro. Quanto a este, mais uma vez demonstra que seu ego é maior do que o colossal corpanzil, de modo que, vez por outra, a cavidade da parte inferior da face não o suporta.
    Migalhas dos leitores - Jobinadas
    "Péssima participação do ministro Jobim no programa Roda Viva (Migalhas 2.684 - 2/8/11 - "Jobim - I"). Além de fugir de perguntas contundentes com respostas evasivas, atribuiu tudo o que aconteceu de bom a si próprio utilizando-se exaustivamente do pronome 'eu', enquanto que o que ocorria de ruim ele atribuía ao governo. De forma bastante clara demonstrou muita arrogância."

    5 de agosto de 2011 06:13

    ResponderExcluir