terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A DESPEDIDA DE UM ANJO






Madeira branca, não mais que um metro de comprimento. Dentro, um lindo menino que deu um pulinho por aqui, um ano e sete meses entre nós. O último salto foi na piscina.
Ali estive para unir o meu sentimento ao da mãe, ao da avó. Sei que precisavam do abraço de cada de nós que ali estivemos e as acompanhamos à despedida.
São minhas vizinhas. Às vezes, trocamos algumas palavras e gentilezas, como pelo menos cumpre ocorrer entre vizinhos.
Sei que não me perdoaria pela ausência. Precisava chorar com elas e o fiz em abundância. Em momentos assim, diante de tão intenso sofrimento, não consigo evitar essa empatia, negar essa explosão de sentimentos, que chega ocasionalmente a me causar algum constrangimento, sendo cumprimentado como se fosse eu o parente.
Não importa. Sentimento não é para ser reprimido.
A certa altura, assaltou-me um pensamento. Aquela vizinha tem horror a Lula, não gosta nem de ouvir falar em Dilma, muito menos do PT. E deixa isso claro, pois meu compromisso partidário e minha admiração pelos dois acabam penetrando em nossos poucos diálogos.
Nem sei se, por isso, nutre alguma (ou muita) antipatia por mim.
Não importa. Naquele momento, eu a vi como uma pessoa frágil, assim como a sua filha. E pessoas em momento de sofrimento precisam de conforto, de afago, e merecem receber. Merecem isso que se chama solidariedade.
Não consigo entender como alguém pode ter outro tipo de atitude em face de uma situação como essa.
Mas sei que voltei dali muito melhor. Voltei daquele sofrido sepultamento como se tivesse sido eu quem recebeu os afagos.
Fernando Tolentino