terça-feira, 22 de novembro de 2016

O CAPITAL DA IMPOPULARIDADE OU A IMPOPULARIDADE DO CAPITAL



Já não há o que esconder.
A primeira reunião do que foi o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, serviu para deixar claro para os brasileiros que o social já não lhe cabe.
Afinal, o que foi o golpe senão a manifestação pública de que os donos do PIB brasileiro, embora inicialmente admitindo a política de conciliação de classes proposta no primeiro governo Lula, isso nunca representou uma adesão entusiástica ao projeto. Tratava-se exclusivamente de aproveitar a maré, retomar os resultados positivos no momento em que nem mesmos os eternos beneficiários do modelo econômico suportavam mais a paralisia resultante dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.
Bastou a crise econômica mundial apontar no horizonte, trazendo os primeiros efeitos para o Brasil, declararam escancarado o recrudescimento da luta de classes e apontaram os aríetes para os programas e propostas que buscavam compensar (ou aliviar) os prejuízos seculares da maioria dos brasileiros.
Falhou o modelo Macri de afastamento de governos com compromissos sociais e solidariedade internacional com os que os propunham. Os eleitores brasileiros até chegaram a ter vacilações no curso da campanha de 2014. Mas despertaram no segundo turno e empurraram para fora do tabuleiro a candidatura reacionária de Aécio Neves.
Como as classes dominantes do Brasil não aceitam derrotas e têm a clara convicção de que o Estado existe para lhe servir, foi adotada a saída testada com sucesso contra os paraguaios. Decidiram simplesmente anular o processo eleitoral e retomar o comando.
Claro que tais intenções não foram reveladas às massas uniformizadas com a camisa da corrupta CBF e do também amarelo pato da não menos censurável Fiesp.
A Ponte para o Futuro, desenhada no momento de combinar o golpe, só foi surgindo nas conversas públicas dos vitoriosos após o afastamento de Dilma Rousseff, evidentemente sem uma tradução que pudesse jogar nas ruas as massas justamente enfurecidas.
Aqui e ali, parcelas consideráveis da população foram traduzindo as medidas: o conteúdo da reforma previdenciária, o significado das alterações na legislação trabalhista, o arrocho para os servidores públicos, o desmantelamento do Estado. Para poucos mais ilustrados, a entrega do patrimônio nacional, mais evidenciada no atentado contra o Pré-Sal e a Petrobras.
Quem percebeu mais rapidamente tratou de se mobilizar e isso foi mais claro para a juventude, vendo ir pro brejo a perspectiva de um ensino de qualidade na escola pública. A resultante foi esse maravilhoso movimento de ocupação de mais de mil estabelecimentos de ensino, em grandes e médias cidades.
A declaração de guerra veio com a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no qual foi estrategicamente podada a representação dos trabalhadores, ganhando foro de uma grande articulação dos interesses do grande empresariado.
A institucionalização de um imenso lobby. Pra não perder a chance da piada, um lobão... Epa! O conceito caiu como uma luva, né?
A substanciosa síntese veio na palavra do publicitário Nizan Guanaes:
Já que o governo ainda não tem índices de popularidade altos, aproveite, presidente. A popularidade é uma jaula. Ninguém faz coisas contundentes com altos níveis de popularidade. Então, aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar este governo para os próximos anos. Aproveite sua impopularidade. Tome medidas amargas. Aliás, este é o grande desafio das democracias do mundo. Como fazer coisas impopulares?
Esperto, Guanaes disse o que Temer queria ouvir. E por isso foi retribuído com aplausos inflamados. A impopularidade com que os brasileiros o premiaram não deve ser vista necessariamente como um aspecto negativo.
Em outras palavras, se não serve para embalar a vaidade do medíocre político que jamais ganharia uma eleição majoritária (aliás, já era preciso sofrer muito para alcançar mandatos empurrado pela máquina partidária), isso pode ser lido como um capital decisivo. Se dito por alguém mais escrachado: “Presidente, lembre-se de que já não tem nada a perder.”
O que não disse Guanaes é a quem realmente interessa o capital da impopularidade. Interessa aos detentores do capital. Oportunistas, querem se refastelar até com o fato de termos um presidente rejeitado por no mínimo 7 em cada 10 brasileiros e a caminho da execração pelos que ainda não entenderam o que significam coisas impopulares, medidas amargas.
E têm pressa! Não porque haja o menor risco de Temer ganhar qualquer migalha de aceitação popular, ainda mais sendo identificado com esse lúgubre receituário. Mas por pretenderem deixar essa herança com ele, tentando chegar em 2018 com alguma candidatura que, mais uma vez, não precise levar a verdade ao palanque. Sem ser identificado pelo crime de entrega dos recursos nacionais. Sem ser responsabilizado pelo esmagamento das grandes massas de trabalhadores, aposentados, estudantes do que sobrar de escolas públicas, pequenos empresários e produtores.
Fernando Tolentino