quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

NOTA DA CGU SOBRE MATÉRIA DA REVISTA VEJA

O mínimo que este Blog pode fazer nesta circunstância é dar o direito de resposta à CGU.
Observação: Os grifos são de responsabilidade deste Blog.

Nota sobre matéria da revista Veja

Controladoria Geral da União

1. A matéria publicada na última edição da revista Veja sobre a Controladoria-Geral da União é, obviamente, uma reação à carta-resposta (não divulgada pela revista) que o Ministro-Chefe da CGU, Jorge Hage, enviou-lhe nos últimos dias do ano passado (publicada em 30 de dezembro neste Blog), diante da edição de "Retrospectiva" do final do ano passado.

2. Isso não obstante e tendo em conta o respeito que a CGU deve aos profissionais que integram seus quadros e, ainda, à opinião pública que sempre acompanhou e reconheceu o seu trabalho sério e republicano, passamos a repor aqui (tendo em vista que a revista nos nega o espaço para resposta) a verdade sobre cada uma das afirmações contidas na matéria:

a) A revista afirma que a CGU produziu, recentemente e de última hora, um Relatório de Auditoria sobre a FUNASA com o intuito de ajudar o Partido dos Trabalhadores a afastar dali o PMDB.

A VERDADE: o repórter Bernardo Melo Franco, do jornal Folha de S. Paulo, pesquisou no site da CGU relatórios pré-existentes, que remontam a 2002, sobre diversos processos de Tomadas de Contas Especiais, envolvendo inúmeros órgãos do governo. O interesse do repórter pelos processos referentes à Funasa só pode ser explicado por ele próprio. Significativamente, no mesmo final de semana em que circulou o exemplar da revista com a matéria que aqui se contesta, também o jornal “O Estado de S. Paulo”, publicou, como manchete principal, a matéria intitulada “Alvos de disputa no segundo escalão somam R$ 1,3 bi em irregularidades”, utilizando a mesma fonte de dados: os relatórios disponíveis desde sempre no site da CGU. A reportagem do “Estadão”, porém, diferentemente da da “Folha”, direciona seu foco para vários órgãos controlados, segundo a matéria, por diferentes partidos, inclusive o PT, o que demonstra: 1) que tais publicações não se deveram a iniciativas da CGU, e sim dos jornais: 2) o caráter republicano das ações da CGU, que se realizam sem levar em conta o partido eventualmente interessado; e 3) a credibilidade que, por isso mesmo, têm os nossos trabalhos.

b) A revista sustenta que a CGU se omitiu de atuar em episódios como o chamado “mensalão”.

A VERDADE: não compete à CGU, um órgão do Executivo, fiscalizar a conduta de membros do Poder Legislativo. Todavia, todos os fatos denunciados à época envolvendo órgãos do Executivo como alvos de desvios (que serviriam para pagamento de propinas a parlamentares) foram objeto de amplas auditorias por parte da CGU. Só para dar um exemplo, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos passou por auditorias amplas e minuciosas, acompanhadas, pari passu, pelo Ministério Publico, que resultaram em dezenas de relatórios, amplamente divulgados à época e disponíveis também, desde então, no site da CGU. Os caminhos para consultar todos esses relatórios no site foram mostrados ao repórter da Veja, que recebeu toda a assistência e atenção, durante cerca de duas horas, inclusive sendo recebido pelo próprio ministro, sendo-lhe entregue, ainda, uma relação completa das demissões, inclusive de diretores da ECT, ocorridas em conseqüência das irregularidades constatadas pela auditoria da CGU.

c – A revista afirma que a CGU se apressou em inocentar a ex-ministra Erenice Guerra, de irregularidades denunciadas na mídia, durante a última campanha eleitoral.

A VERDADE: as denúncias apuradas e descartadas pela CGU nesse caso foram aquelas desprovidas de quaisquer fundamentos. No caso do DNPM, por exemplo, a mídia indicou possível favorecimento à empresa do esposo da ex-ministra, cujas multas aplicadas pelo órgão teriam sido canceladas indevidamente. Logo se verificou que a própria área jurídica do DNPM havia reconhecido erro na aplicação das multas e recomendado à direção seu cancelamento para o necessário recálculo, o que foi feito. As multas foram, então, novamente impostas e vinham sendo pagas regularmente pela empresa em questão. Não havia, portanto, fundamento para que o caso fosse levado adiante. O mesmo se deu (ausência de fundamento) com as denúncias sobre a EPE e o BNDES. Outros casos, mais sérios e mais complexos, denunciados pela mídia na mesma ocasião, continuam sendo investigados, como o que envolve a empresa MTA e a ECT, cujos resultados serão divulgados em breves dias.

d – A Veja diz, quanto aos cartões de pagamento, que a ação da CGU se limitou a elaborar uma cartilha com orientações e passou a investigar gastos de “integrantes da administração tucana”.

A VERDADE: além de elaborar a cartilha, dirigida a todos os gestores que lidam com suprimento de fundos, todas as denúncias (inclusive as que envolveram ministros) sobre irregularidades com esse tipo de gasto foram apuradas e tiveram seus resultados amplamente divulgados na mídia. Três ministros devolveram gastos considerados impróprios para serem feitos com o cartão e uma ministra teve que deixar o governo, como amplamente divulgado à época. E tudo isso está também disponível a qualquer cidadão, no site da CGU. O que a revista não registra é que foi do Governo Lula, por proposta da CGU, a iniciativa de dar transparência a esse tipo de gasto, divulgando tudo na internet para fiscalização da sociedade, exatamente para corrigir possíveis desvios e distorções. E quem delimitou o escopo dos trabalhos, inclusive retroagindo ao segundo mandato do Governo FHC, não foi a CGU, mas a própria “CPMI dos Cartões Corporativos”, que, por meio da aprovação do Requerimento nº 131, de 12 de março de 2008, estabeleceu que o seu objetivo seria analisar a regularidade dos processos de prestações de contas de suprimento de fundos dos últimos 10 anos.

e – A revista afirma que o caso “Sanguessugas” surgiu de denúncias na imprensa.

A VERDADE: a Polícia Federal, o Ministério Público e toda a imprensa sabem que a “Operação Sanguessuga”, assim como tantos outros casos que desaguaram em operações especiais para desmantelar esquemas criminosos, foi iniciada a partir de fiscalizações da CGU nos municípios. Aliás, a mesma matéria do jornal “O Estado de S. Paulo” citada no item “a” desta nota enumera muitos desses casos, em retranca de apoio à matéria principal, intitulada “Ações da CGU norteiam as megaoperações da PF”.

f – A revista atribui ao Ministro-Chefe da CGU, afirmação de que este órgão dá “prioridade ao combate da corrupção no varejo”.

A VERDADE: O que foi dito ao repórter foi que nos pequenos municípios o cidadão comum sente mais diretamente os desvios de merenda escolar e medicamentos do que os efeitos dos grandes escândalos ocorridos nos grandes centros (o que é aliás fácil de entender). Não se disse que a CGU prioriza isso ou aquilo, pois ela combate a corrupção com a mesma prioridade, independentemente do tamanho de cada caso.

g – A reportagem da Veja tece considerações absurdas sobre relatório referente a auditoria em projeto de cooperação técnica internacional celebrado entre o Ministério da Integração Nacional e a FAO, no exercício de 2002.

A VERDADE: a eventual ocorrência de divergências entre as equipes de auditoria e as chefias de cada Coordenação, embora não sejam freqüentes, são naturais no processo de homologação dos relatórios. O processo usual é que por meio do debate se tente alcançar o consenso. Quando o consenso não é possível, o importante é que o processo se dê de forma transparente. Ora, a própria reportagem se encarrega de esclarecer que a direção da Secretaria Federal de Controle Interno (unidade da CGU) expressou seu entendimento divergente por escrito e fundamentadamente, tendo ficado também registrado nos autos a opinião dos demais servidores. Neste caso, como em tudo o mais, as coisas se fazem na CGU com plena observância do princípio da transparência.

h – A revista afirma ter havido atrito entre a CGU e a Polícia Federal durante a Operação Navalha, e que a CGU estaria “contribuindo para atrasar o desfecho do trabalho”.

A VERDADE: isso nunca ocorreu. Prova disso, é que a Subprocuradora-Geral da República encarregada do caso afirmou, por mais de uma vez, que sem os relatórios de CGU não teria sido possível oferecer denúncia contra os acusados. E outra prova é que as punições foram rapidamente aplicadas no caso pela CGU, inclusive a declaração de inidoneidade da principal construtora envolvida.

Como se vê, a realidade é muito diferente do que se lê na revista.

Estes esclarecimentos que fazemos agora não serão encaminhados à Revista, pela simples razão de que ela se recusa a publicar nossas respostas. Contudo, a CGU se sentiu na obrigação de prestá-los, como já dito no início, em respeito aos seus servidores e à opinião pública em geral.

Ascom/CGU, 24/01/2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DILMA NÃO É LULA? CLARO QUE NÃO!

Parece que está a se espraiar uma nova obsessão discursiva dos nossos jornalões e emissoras de televisão, um mantra que vem sendo recitado à exaustão, ainda antes do início do novo governo, mas com sonoridade e volume mais intensos a partir da posse: "Dilma não é Lula".

Um dos pontos centrais de comparação e apoio dessa estratégia política midiática (sim, é disso que se trata) foram os próprios discursos de posses: o de Lula, emotivo, tocando o coração do povo; o de Dilma, técnico e burocrático, sem gosto e sem cheiro, sem apelo popular. Na primeira semana de trabalho da Presidenta, marcação cerrada da mídia. Dilma, ao contrário de Lula, exige pontualidade, faz reuniões objetivas, define tarefas e cobra responsabilidades. Solicitou inclusive que, na sala onde se reúne com os ministros no Planalto, fosse instalado um relógio de parede, a lembrar permanentemente a todos os presentes a passagem de tempo.

Aliás, sem perder tempo, Dilma teria mandado tirar de seu ambiente de trabalho um exemplar da Bíblia e um crucifixo, objetos que teriam feito parte da rotina de Lula (a informação não demorou a ser desmentida pela Ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação Social, via twitter). Sobre a tragédia provocada pelas chuvas (e pela inércia e irresponsabilidade dos governos locais) no Rio de Janeiro e a respeito da visita da Presidenta às áreas atingidas, Eliane Cantanhêde escreveu na Folha de hoje (disponível para assinantes) que "ao ir pessoalmente à região serrana do Rio de Janeiro ontem, a presidente Dilma Rousseff fez o que governantes têm de fazer. Dilma não titubeou e mostrou que não vai ser igual nem fazer tudo igual ao antecessor e mentor Luiz Inácio Lula da Silva, que, numa situação assim, ouvia, fazia cálculo político, avaliava perdas e ganhos. Às vezes ia logo; às vezes, não". Mais uma vez, na leitura feita pela mídia, Dilma não fez como Lula teria feito.

Bem, mas então Dilma não é Lula? Claro que não! Os dois obviamente carregam estilos diferentes de administração. O que não significa - longe disso - que representem projetos antagônicos, uma ruptura. A dinâmica é de continuidade, de apostas e ações comuns, mas naturalmente com marcas explícitas e intensas de singularidades e com visões de mundo independentes. Os dois têm suas virtudes - e seus defeitos. Não vivemos o tal do terceiro mandato (o "poste" que a mídia tentou criar ainda vai surpreender muita gente). Mas obviamente não falamos de um governo de oposição ao anterior.

O importante a pensar é: por que raios então a mídia limpinha tem insistido tanto nesse mantra, no "Dilma não é Lula", seja explicitamente, seja nas entrelinhas? Penso que as repostas estão conectadas a dois movimentos precisos, com objetivos bem delineados.
Primeiro: o que se quer é isolar Dilma e impedir que Lula possa servir como escudo de proteção da nova administração, se e quando for necessário, simulando (falsos) atritos e divergências entre os dois líderes, tornando finalmente a Presidenta uma presa mais frágil e fácil para movimentos futuros. Note-se que, para tanto, a mídia tem inclusive se manifestado disposta a pontualmente tapar o nariz e "elogiar" Dilma, como fez Cantanhêde ("Dilma fez o que governantes têm de fazer, não titubeou...").

Atenção, os elogios não são gratuitos, e estão diretamente conectados ao segundo movimento: desconstruir a imagem de Lula e esvaziar o ex-presidente, pelo menos em parte, do extraordinário capital político e de popularidade que conseguiu acumular durante os oito anos de mandato. Para tanto, é preciso apresentá-lo como preguiçoso, desleixado, não afeito a regras e horários, um sujeito que "deixou a vida levá-lo, o barco correr", acabou encontrando uma conjuntura favorável, soube se comunicar com as massas e, mais por sorte do que por competência e dedicação política, terminou fazendo um bom governo. Ao elogiar Dilma, tentam desqualificar Lula, por oposição.

Juntemos as duas pontas: Dilma isolada e fragilizada + Lula com sua imagem abalada = espaço aberto para candidatura oposicionista com mais chances de sucesso em 2014. É isso. Essa é a equação que a mídia tenta construir. Se vai dar certo, se vão ao final conseguir escrever o "como queríamos demonstrar" (cqd), são outros quinhentos. Como diria Garrincha, falta combinar com os russos... Mas o fato é que a sucessão presidencial já começou, com quatro anos de antecedência. Quem se recorda da eleição de 1989 vai se lembrar também que o "caçador de marajás" não surgiu repentinamente, às vésperas do pleito.

Salvo acidentes de percurso, vem aí Aécio Neves. É o mineiro bom de papo, moderno, conciliador e sobretudo bom gestor, a encarnar o tão desejado "pós-Lula". Já recebeu até as bençãos e o sinal verde de FHC, que afirmou que "o bonde andou e será a vez de Aécio".

Com outras palavras, já escrevi aqui: oposição no Brasil não é feita atualmente no Congresso Nacional, mas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na Barão de Limeira, na Engenheiro Caetano Álvares e na Marginal Pinheiros, em São Paulo...


Francisco Bicudo, Blog do Chico,
14 de janeiro de 2011

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

CUBA RUMO A MUDANÇAS


11/1/2011 22:48, Por Frei Betto - do Rio de Janeiro

Cuba marcou para abril deste ano o VI Congresso do Partido Comunista. Isso significa mudanças profundas no país. Um documento preliminar – Projeto de Orientações da Política Econômica e Social –, divulgado em novembro, agora é debatido pela população.

A situação econômica cubana é crítica, agravada por fatores externos: crise econômica mundial, que reduziu as vias de financiamento externo; redução do preço das exportações em 15%; recrudescimento do bloqueio econômico imposto pela Casa Branca. Hoje, o principal “produto” de exportação de Cuba é a prestação de serviços, em especial na área da saúde.

Fatores climáticos influem também na deterioração da economia: 16 furacões, entre 1998 e 2008, causaram prejuízos no valor de 20,5 bilhões de dólares (metade do PIB), e foram consideráveis as perdas em decorrência das secas de 2003, 2005 e nos dois últimos anos.

Some-se a isso a dívida externa, a baixa eficiência laboral, a descapitalização da base produtiva e da infraestrutura, e o envelhecimento populacional, agravado pelo reduzido índice de natalidade.

Como saída para a crise, o documento propõe o fim da libreta de abastecimento, cujos produtos são subsidiados, compensado por aumento salarial; cultivar terras ociosas (a ociosidade atinge 50% das terras agricultáveis); reestruturar o sistema de empregos, de modo a reduzir o paternalismo estatal e ampliar o leque de iniciativas não estatais; aplicar política salarial mais rigorosa, eliminando subsídios pessoais excessivos.

Prevê-se ainda diminuir a dependência de produtos importados e diversificar as exportação de bens e serviços; buscar novas fontes de financiamento para recapitalizar o sistema produtivo do país; abrir-se ao capital estrangeiro; e eliminar a dupla moeda. Hoje, os cubanos dispõem de pesos e, os turistas, de CUC, o peso conversível. São necessários 24 pesos para se adquirir 1 CUC, cotado a US$ 1,25.

Apesar das dificuldades, aos 11 milhões de cubanos o Estado assegura os três direitos fundamentais: alimentação, saúde e educação. Cuba não intenciona retornar ao capitalismo. O documento enfatiza que “só o socialismo é capaz de vencer as dificuldades e preservar as conquistas da Revolução, pois a atualização do modelo econômico primará pela planificação e não pelo mercado.”

Cuba é uma nação que se destaca pela solidariedade internacional. De 1961 a 2009 diplomaram-se na ilha, gratuitamente, 55.188 jovens de 35 países, dos quais 31.528 de nível universitário. Hoje, há 29.894 bolsistas estrangeiros em diferentes especialidades, dos quais 8.283 cursando a Escola Latino-Americana de Medicina (inclusive centenas de brasileiros, que ainda não tiveram seus diplomas revalidados em nosso país).

Prestam serviço, em 25 países, 1.082 educadores cubanos. O método de alfabetização de Yo si, puedo, já habilitou à leitura 4.900.967 adultos de 28 países e erradicou o analfabetismo na Venezuela, na Nicarágua e na Bolívia. (Inclusive ensinou Tiririca a ler).

Na área da saúde, Cuba atua em 78 países, com 37.667 colaboradores, dos quais 16.421 são médicos. A Operação Milagro, iniciada em 2004, já atendeu gratuitamente, em quase toda a América Latina, cerca de 2 milhões de pacientes com problemas oftalmológicos, como catarata.

Cuba caminha no rumo do modelo chinês? Em discurso na Central de Trabalhadores de Cuba, em novembro, Raúl Castro afirmou: “Não estamos copiando nenhum país”. Deixou claro que se busca um caminho “autônomo, ajustado a nossas características, sem renunciar minimamente à construção do socialismo”.

Cuba está convencida de que a completa estatização da economia é inviável. Daí a proposta de manter empresas estatais ao lado de outras de capital misto, bem como modalidades diversas de iniciativas não estatais, como cooperativas, terras arrendadas e prestação de serviços por conta própria.

Para se evitar a corrupção em contratos com o exterior, Cuba aplicará este princípio: quem decide não negocia e quem negocia não decide.

Com as futuras reformas, mais de 1 milhão de cubanos devem perder seus empregos na estrutura estatal. Um duplo desafio se impõe à Revolução: a requalificação profissional dos desempregados, a fim de se evitar a contravenção, o narcotráfico e a economia paralela, e o incremento da emulação ideológica, em especial dos jovens, de modo a evitar que a Revolução se torne um fato do passado e de manter a prevalência dos valores subjetivos sobre a mercantilização dos costumes incutida pelo neoliberalismo.

Entre furacões e sabotagens, a Revolução cubana resiste há 53 anos. Seu maior mérito é o de assegurar condições dignas de vida a 11 milhões de habitantes da ilha e não medir esforços na solidariedade aos povos mais pobres do mundo.

As reformas anunciadas significam maior democratização do socialismo. O Estado deixa de ser o grande provedor para se tornar o principal indutor do desenvolvimento. E convoca os cidadãos a serem os protagonistas de um socialismo com a cara do século XXI.

Frei Betto é escritor, autor de Cartas da Prisão (Agir), entre outros livros. www.freibetto.org
twitter:@freibetto
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

MARISA LETÍCIA LULA DA SILVA: AS PALAVRAS QUE PRECISAVAM SER DITAS

Hildegard Angel

Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de "a Cara" por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À "companheira" número 1 da República, muito osso, afagos poucos.

dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E - pior de tudo - os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família?

Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve. Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a "mudez", a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão?

Ah, mas tudo que "eles" queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar pomposo de doutorados e mestrados. Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia. E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?

Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade.

Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.

Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar "emergentes" metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo "arrodeado" de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros t antos, que ajudaram a construir o Brasil.

Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada.

No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.

Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor! Cobraram de Marisa Letícia um "trabalho social nacional", um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.

Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.

Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam. Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.

Hildegard Angel é colunista social no Rio de Janeiro, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones; trabalhou como atriz no cinema e na televisão na década de 1970, dedicou-se ao colunismo social no jornal O Globo e desde 2003 no Jornal do Brasil.

Publicado originalmente no Blog de Luis Nassif

AS VIAGENS DO PRESIDENTE: 87 PAÍSES E 477 DIAS.

Embora não necessariamente concorde com conceitos constantes deste texto, ele contém dados valiosos sobre a agenda de viagens do ex-presidente Lula durante os seus oito anos de mandatos


Nos oito anos de mandato, o presidente Lula passou 477 dias no exterior. Visitou 87 países além de Guiana Francesa e Palestina. Somente na Argentina, Lula esteve 19 vezes. O presidente recebeu em Brasília 232 chefes de Estado e de governo. No Brasil, viajou 672 dias e visitou os 26 estados. Portanto, nos dois mandatos, o presidente passou mais de um ano viajando para o exterior, o que significa que José Alencar foi presidente do Brasil por mais de um ano. Na agenda externa, o presidente priorizou os vizinhos latino-americanos e a África.
Lula fez 87 viagens à América do Sul, visitou os onze países e a Guiana Francesa. A primeira viagem após assumir a presidência foi para o Equador, em janeiro de 2003, para a posse do ex-presidente Lúcio Gutierrez, deposto em abril de 2005. A Argentina foi o País em que Lula esteve mais vezes (dezenove), incluídas as visitas de Estado, encontros dos grupos de países, como o MERCOSUL e o velório do ex-presidente Nestor Kirchner (out/2010). Em segundo, a Venezuela (13 vezes) e Estados Unidos (12 vezes). O presidente fez, pelo menos, uma viagem por ano à África.
Entre os chefes de Estado e de governos que visitaram o Brasil, Hugo Chaves (Venezuela) e Cristina Kirchner (Argentina) vieram ao Brasil mais de uma vez. Havia uma combinação de manter encontros periódicos com Lula.
As viagens de Lula, embora criticadas pela oposição, têm méritos na estratégia de vender o país no exterior. O país passou a ser mais respeitado e obteve maior influência nos blocos internacionais. Lula colocou o Brasil no cenário internacional; provocou polêmicas como na retribuição à visita do presidente do Irá, Mahmoud Ahmadinejad, quando ficou claro que havia um parceiro que podia entrar no jogo. Intermediou com o governo da Turquia o acordo sobre o enriquecimento de urânio iraniano. Mal compreendido pelos Estados Unidos que fez retaliações ao Irá através da Organização das Nações Unidas (ONU).
Lula gastou ainda 672 dias viajando pelo Brasil para lançar programas e inaugurar obras. (algumas inacabadas). A maioria das viagens para o nordeste, onde desfruta de altíssima popularidade. Hoje, a três dias do fim de seu governo, Lula foi a Pernambuco, no porto de Suape, lançar a pedra fundamental da nova unidade da Fiat e no marco Zero, no centro de Recife, fará o lançamento oficial do projeto Centro Cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga.
No dia 29, o presidente fará a última viagem a Fortaleza para laçar uma refinaria da Petrobrás. De lá para Salvador onde entrega unidades habitacionais. No dia 30, fica em Brasília para a preparação da entrega de faixa presidencial a sua sucessora Dilma Russeff.

Abraão Lima – professor universitário, mestre em economia de empresas,
doutorando pela UCB e presidente do Instituto de Estudos Políticos,
Econômicos e Sociais do Tocantins (IEPES-TO)






Publicado originalmente no Jornal do Tocantins

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CALDEIRÃO DO HULK EM HORÁRIO NOBRE


Coisa feia!

De repente, a TV Globo suspende a transmissão dos cumprimentos de chefes de Estados estrangeiros e outras autoridades à recém-empossada presidente Dilma Rousseff e, abruptamente, anuncia o Caldeirão do Hulk...

Estranha coincidência! Estranhíssima. Neste exato momento, Dilma recebia os cumprimentos da direção da Rede Record e, com eles, do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal.