O
dedo – aliás os dedos, pois essas pautas são assumidas de forma uníssona,
chegando a parecer que combinadas entre os diferentes editores – jamais fora
voltado para a própria grande mídia.
Daí a importância de elogiar o ombudsman da Folha de São Paulo. Antes, parlamentares que integram a CPMI que inicia a investigação sobre o rumoroso caso prometeram apurar as evidências de envolvimento do contraventor Carlinhos Cachoeira com repórteres, editores (e, chega-se a afirmar, dirigentes) de veículos de comunicação. Mas, agora, o ombudsman da Folha faz eco com a necessidade de que os órgãos de imprensa não desdenhem desses indícios.
Ainda não se sabe como a advertência será vista pelos editores do jornal, mas a iniciativa é extremamente relevante. E, por isso, merece elogios. Mais: precisa de elogios, justamente para que não caia no conveniente esquecimento dos editores. Isso é indispensável para que os leitores tenham pelo menos clareza com relação ao produto que estão consumindo.
Não é justo veículos de comunicação se escudarem na explicação de que “ter um corrupto como informante não nos corrompe”.
É claro que não cabe, necessariamente, desprezar criminosos e contraventores enquanto fontes de notícias.
A questão não essa e reduzir o debate a isso é esgueirar-se pra longe do que se põe em evidência.
Inadmissível é ter corruptos, criminosos e contraventores como fontes preferenciais, creditar-lhes confiança irrestrita, tentar transformá-las em exemplares inquestionáveis de honradez.
Inimaginável é aceitar que corruptos, criminosos e contraventores ganhem o status de pauteiros, sejam eles e não as redações dos veículos de comunicação a decidir o que deve (e o que não deve) ser publicado.
Pior que tudo isso é se (Deus livre os leitores e telespectadores brasileiros disso!) veículos de comunicação chegam a ter negócios ou pelo menos aceitar vantagens de corruptos, criminosos e contraventores.
Daí a importância de elogiar o ombudsman da Folha de São Paulo. Antes, parlamentares que integram a CPMI que inicia a investigação sobre o rumoroso caso prometeram apurar as evidências de envolvimento do contraventor Carlinhos Cachoeira com repórteres, editores (e, chega-se a afirmar, dirigentes) de veículos de comunicação. Mas, agora, o ombudsman da Folha faz eco com a necessidade de que os órgãos de imprensa não desdenhem desses indícios.
Ainda não se sabe como a advertência será vista pelos editores do jornal, mas a iniciativa é extremamente relevante. E, por isso, merece elogios. Mais: precisa de elogios, justamente para que não caia no conveniente esquecimento dos editores. Isso é indispensável para que os leitores tenham pelo menos clareza com relação ao produto que estão consumindo.
Não é justo veículos de comunicação se escudarem na explicação de que “ter um corrupto como informante não nos corrompe”.
É claro que não cabe, necessariamente, desprezar criminosos e contraventores enquanto fontes de notícias.
A questão não essa e reduzir o debate a isso é esgueirar-se pra longe do que se põe em evidência.
Inadmissível é ter corruptos, criminosos e contraventores como fontes preferenciais, creditar-lhes confiança irrestrita, tentar transformá-las em exemplares inquestionáveis de honradez.
Inimaginável é aceitar que corruptos, criminosos e contraventores ganhem o status de pauteiros, sejam eles e não as redações dos veículos de comunicação a decidir o que deve (e o que não deve) ser publicado.
Pior que tudo isso é se (Deus livre os leitores e telespectadores brasileiros disso!) veículos de comunicação chegam a ter negócios ou pelo menos aceitar vantagens de corruptos, criminosos e contraventores.
TEMA PROIBIDO
Suzana Singer
* Folha (ombudsman) - 06.05.2012
A
imprensa deve revelar sua relação com o bicheiro para que o leitor decida o que
é eticamente aceitável.
A
imprensa tem-se mostrado ágil e eloquente na publicação de qualquer evidência
de envolvimento com o superbicheiro de Goiás, Carlos Cachoeira. Já se
levantaram suspeitas sobre governadores, senadores, deputados, policiais,
empresários, mas reina um silêncio reverente no que tange à própria mídia.
O
sujeito nem precisa ter sido pego em conversa direta com Cachoeira, uma citação
ao seu nome é suficiente para virar notícia – na semana passada, por exemplo,
a Folha destacou
uma tentativa de lobby no Ministério da Educação.
Já
menções à imprensa, na grande imprensa, têm sido quase ignoradas. A Folha, que tem
ombudsman para publicar o que a Redação menospreza, aparece em dois grampos,
nada comprometedores.
Num
diálogo, Cachoeira comenta nota do Painel, de 7 de julho de 2011, em que o
deputado federal Sandro Mabel, de Goiás, nega ser a fonte das denúncias que
derrubaram o ministro dos Transportes. O bicheiro se diverte e diz que foi o
senador Demóstenes Torres (ex-DEM) quem espalhou isso em Brasília.
Em
outra conversa, o contraventor e Claudio Abreu, na época diretor da Delta,
tentam evitar a publicação de uma reportagem. Primeiro, Abreu diz que “nós
tamos bem lá”, mas depois lamenta não ter contato no jornal. “Queria alguma
relação com a Folha.”
A
Secretaria de Redação não identificou o assunto que incomodou a empreiteira,
mas diz que, após o tal telefonema, “a Folha publicou
duas reportagens críticas à Delta: uma falando de sobrepreço em reforma no
Maracanã e outra sobre paralisação de obra em Cumbica”.
A
“Veja”, que aparece várias vezes nos grampos, publicou apenas um diálogo em que
é citada e colocou, no on-line, uma defesa de seus princípios (“Ética
jornalística: uma reflexão permanente”). O artigo, do diretor de Redação,
afirma que “ter um corrupto como informante não nos corrompe” e lembra ao
leitor que “maus cidadãos podem, em muitos casos, ser portadores de boas
informações”. Cabe ao jornalista avaliar “se o interesse público maior supera
mesmo o subproduto indesejável de satisfazer o interesse menor e subalterno da
fonte”.
Trocando
em miúdos: mesmo sendo uma pessoa inidônea, Cachoeira pode ter fornecido à
revista dados valiosos, que levaram a importantes denúncias de corrupção.
Do
que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no relacionamento
“Veja”-Cachoeira. O paralelo com o caso Murdoch, que a blogosfera de esquerda
tenta emplacar, soa forçado, porque, no caso inglês, há provas de crimes, como
escutas ilegais e a corrupção de policiais e autoridades.
Não
ser ilegal é diferente, porém, de ser “eticamente aceitável”. Foram oferecidas
vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha
conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? Há
muitas perguntas que só podem ser respondidas se todas as cartas estiverem na
mesa.
É
preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa. A Secretaria de
Redação diz que tem “publicado reportagens a respeito, quando julga que há
notícia”. “Na sexta, entrevista com o relator da CPI tratava do tema e estava
na Primeira Página. Já em abril havia reportagem de Brasília e colunistas
escreveram a respeito”, afirma.
É pouco. Grampos
mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que essa parte do
escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza com que os políticos
têm sido cobrados. Permitir-se ser questionado, jogar luz sobre a delicada
relação fonte-jornalista, faz parte do jogo democrático.
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