Gilberto Sousa
A aprovação na Câmara dos Deputados da proposta de mudança do Código Florestal representa o maior retrocesso na legislação ambiental na história do País. Se o texto aprovado pelo Senado - embora contasse com avanços residuais - já significava anistia aos desmatamentos ilegais e incentivava novos desmatamentos, os deputados conseguiram o que parecia impossível: torná-lo ainda pior.O texto da Câmara dos Deputados, além de ferir os princípios constitucionais da isonomia, da função social da propriedade e da proibição de retrocessos em matéria de direitos fundamentais, feriu o interesse nacional.
O
resultado decorre da ação dos deputados vinculados aos ruralistas, que com
eficiência e habilidade instrumentalizaram o discurso de defesa dos pequenos
proprietários e da agricultura familiar, retirando as poucas melhorias que o
Senado efetivou.
O texto
aprovado na Câmara, além de consolidar estragos ambientais já perpetrados,
trará imensos ganhos patrimoniais aos detentores de domínios no Centro-Oeste e
no Norte nos quais as áreas de preservação permanente (APP) foram derrubadas,
queimadas e maquiadas com capim.
A vitória
ruralista remete ao paradoxo de um país majoritariamente urbano em que a maior
representação na Câmara dos Deputados é rural. Revela também o descolamento
entre o legislativo e a maioria da sociedade brasileira que, mediante pesquisa
de opinião, é contrária à anistia a quem desmatou e a redução das áreas de
proteção permanente.
A Câmara
nesse episódio se manteve distante das expectativas da sociedade brasileira,
deixando-se capturar por um grupo econômico e político poderoso em detrimento
da necessária mediação dos interesses envolvidos.
Essa
disfunção gerou forte reação na sociedade expresso em editoriais de importantes
jornais e revistas de grande circulação nacional sugerindo que a Presidenta
Dilma corrigisse o acinte feito pelos deputados.
Nesse
contexto as redes sociais, muitos artistas e intelectuais formaram o coro
“Veta, Dilma!”. É interessante notar que o movimento “Veta, Dilma!” seja
anterior a aprovação do texto de reforma do Código Florestal na Câmara dos
Deputados, denotando que os organizadores do movimento já percebiam como seria
difícil vencer a cultura de produção a todo custo que
está incrustada na mentalidade da bancada ruralista e de seus aliados.
Dada às
dificuldades, o caminho do movimento “Veta, Dilma!” foi de centrar energia no
debate com a sociedade brasileira, espaço onde os ruralistas mostraram-se
frágeis e sem capilaridade social. A estratégia mostrou-se acertada, pois em
poucos dias uma discussão supostamente árida, técnica e que gera dúvidas até
entre aqueles que já acompanham profundamente o assunto, ganhou audiência nas
redes sociais por meio do “clic ativismo”.
O
movimento “Veta, Dilma!” se caracteriza por focar no apoio a presidenta Dilma
para que ela saiba que terá o respaldo da sociedade para cumprir seu
compromisso de campanha presidencial de impedir retrocessos no Código
Florestal.
O que se
debate agora é o alcance e a profundidade do veto, pois há os que defendem que
Dilma vete os “excessos” cometidos na Câmara e retorne ao texto acordado no
Senado, visto como equilibrado e do consenso possível. E de outra parte, cresce
a opinião de que as mudanças efetivadas na Câmara, ao anular os avanços feitos
no Senado, torna inócua a tentativa do veto “cirúrgico” a pontos específicos.
Desse modo, o mais adequado nessa ótica seria o veto integral ao texto do
Código Florestal, sintetizada na insígnia “Veta tudo Dilma”.
Independente
do resultado e do alcance do veto, a sociedade brasileira sairá mais
fortalecida, uma vez que em tempo algum se discutiu tanto a questão florestal e
ambiental como agora e expressou sua insatisfação a grupos específicos que
operam no legislativo. Quem sabe os “indignados” que povoam a Europa estejam
chegando por aqui.
Sugestão: Coloque as opções de compartilhamento nas redes sociais dos textos publicados. Beijos
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