Quem foi mesmo o fulano
que condenou Nelson Mandela? Quem aí sabe o nome de quem deu o tiro fatal em
Che Guevara? Alguém sabe o nome do algoz de Tiradentes? Ou do assassino de Antônio
Conselheiro?
Os nomes dos carrascos
não merecem mais que o lixo. São meros serviçais.
Muitos sequer conseguem
identificar os interesses que defendem. Menos ainda é possível entender o que
anima as suas vítimas.
Aos 7 anos, talvez tudo
o que Lula poderia ambicionar seria o dia seguinte, a estação seguinte, o ano
seguinte. Afinal, na região em que vivia, já havia sido uma exceção por
completar um ano, quando as estatísticas mostravam que isso só era possível
para uma em cada dez crianças. Com 14 anos, não havia como sonhar mais do que
com o dia em que se tornaria um torneiro mecânico. Quando ingressou no
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, dez anos depois, dificilmente
imaginava chegar à presidência da entidade. Liderando as históricas greves a partir
de 1978, ainda relutava em participar de partido político, o que veio a ocorrer
em 1979, com a fundação do PT.
Foram mais dez anos
para, na primeira eleição direta desde que instituída a ditadura militar, disputar
a Presidência da República. Chegou ao cargo após três derrotas, 14 anos depois.
Alguém diga, por favor,
a esses almofadinhas de Curitiba que isso bastava para satisfazer alguma
ambição pessoal daquele menino de Garanhuns.
Mas Lula queria muito
mais. Aquilo, para ele, representava a oportunidade de fazer diferente. Tinha
quatro anos pela frente e precisava fazer com que cada criança de grotões como
aquele em que viveu pudesse almejar no mínimo o que ele conseguiu ter como trabalhador
especializado no ABC paulista. Que cada família tivesse o indispensável para
comer. Que as pessoas, em casas iluminadas, pudessem se enxergar à noite. Que a
educação fosse acessível para todos.
Lula teve quatro anos e
mais quatro. E viu isso virar realidade. Conseguiu contribuir decisivamente
para que o seu projeto se estendesse por mais quatro anos e reeleger Dilma,
assegurando a continuidade de cada um desses objetivos. Quando veio o golpe
parlamentar-judicial-midiático, já se avizinhava o momento em que se tornaria
realidade a profecia de Antônio Conselheiro de o sertão virar mar.
Segundo a FAO (ONU), a pobreza
extrema (quem vive com menos de 1 dólar por dia) reduziu-se em 75% entre 2001 e
2012. Nada menos de 35 milhões de pessoas chegaram à classe média.
Lula conseguiu dinamizar
setores da economia que agonizavam, como a construção naval, implantar
programas estratégicos nas forças armadas, desconcentrar a industrialização de
vários setores, como o automobilístico, ampliar fronteiras para empresas
brasileiras e quitar a dívida com o FMI.
Primeira capital do
Brasil, a Bahia chegou ao início do seu governo com apenas uma instituição federal
de ensino superior, sendo esse número multiplicado simplesmente por cinco. Essa
desconcentração ocorreu no restante do Brasil, de modo que a Paraíba tornou-se
o estado com o maior número de doutores por habitantes, enquanto Bom Jesus
(Piauí) passou a ostentar essa condição de município recordista de doutores
comparativamente com a população.
Esses feitos são
reconhecidos em todo o mundo e, tendo apenas completado o curso fundamental, tornou-se
uma rotina Lula ser reconhecido por universidades brasileiras e estrangeiras, colecionando
dezenas de títulos de doutor honoris causa. Como nenhum outro presidente ou
homem público brasileiro, Lula passou a circular entre chefes de Estado das
maiores potências do planeta: presidentes, reis e rainhas. Passou a ser ouvido por
esses estadistas, intermediar questões delicadas, sua presença passou a ser
destacada pelos dirigentes de países poderosos, independentemente de qualquer
afinidade política.
Dá para imaginar que
Lula colocasse toda essa trajetória de realizações públicas e pessoais a
serviço de, concluídos os seus mandatos, besuntar-se com a oferta da reforma de
um apartamento?
Só alguém com uma
mentalidade minúscula, absolutamente mesquinha, tacanha. Só mesmo quem se diz à
frente de uma cruzada pela moralidade, mas não é capaz de rejeitar auxílio
moradia, embora residindo em imóvel próprio. Ou seja, ser indenizado pelo uso
de sua própria residência. E receber acima do teto constitucional. Mais que
isso, alguém que explique o expediente como um estratagema para burlar a
inexistência de reajustes satisfatórios. Mesmo sabendo que tais reajustes são
negados a todos os outros servidores públicos.
Só mesmo alguém que é
capaz de promover-se com estrepitoso jejum alegadamente em nome da mesma
moralidade e, a despeito de estar entre os melhores salários do setor estatal, é
capaz de cobrar por palestras em que fala de processos em que atua como agente
público ou fazer especulação imobiliária adquirindo imóveis de programa de
moradia popular.
Alguém assim não
consegue mesmo entender que pode haver outros objetivos na vida que acumular
bens e rendimentos.
Aquele sobrevivente da
fome, retirante, engraxate, operário metalúrgico foi muito além do que pudesse
ser qualquer dos seus objetivos pessoais.
Saiu do seu último governo
com 87% de aprovação, o suficiente para não assumir mais qualquer função
pública. Até por ter ainda que ter lutado para vencer um câncer.
Disputar um novo
mandato de presidente, vencer mais uma eleição, não é na realidade o objetivo
de Lula. Na verdade, ele cede à expectativa de seus eleitores.
Jamais um brasileiro foi
tão agredido, por quase a unanimidade da mídia nacional, em todos os horários
de todos os dias, em todas as edições jornalísticas. Das formas mais torpes, sem
dispor do direito ao mínimo contraditório. Mas qualquer sondagem de opinião
pública volta a surpreender os seus detratores.
Lula foi condenado, está
recolhido a uma cela. E daí? Isso só impõe o mesmo silencia a que a mídia lhe
condenou durante tantos anos. Lula continua a exibir mais que o dobro das intenções
de qualquer adversário. Quanto mais o querem execrado pela opinião pública, mais
o povo deixa claro que é nele que confia.
A candidatura de Lula
serve para isso: para deixar claro que o maior inimigo dos poderosos é, por
isso mesmo, o único a merecer a confiança do povo brasileiro.
No mais, algo que os
meninos mimados dos tribunais paranaenses não são sequer capazes de supor: cada
ataque desferido pelos inimigos confirma que Lula é o único dos atuais políticos
brasileiros com lugar assegurado na eternidade.
Fernando
Tolentino
Só uma observação: você escreve bem demais!
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