quinta-feira, 12 de junho de 2014

O BRASIL JÁ ESTÁ EM CAMPO. TODOS JUNTOS, BRASIL!




As paredes da represa parecem ter repentinamente arrebentado!
Durante meses, ouvimos e lemos que 12 de junho seria um dia de opróbio, que a verdadeira brasilidade estaria no lado de fora das obras inconclusas de estádios, multidões incapazes de se locomover nas cidades-sedes, diante da total falta de mobilidade.
O Brasil parecia acuado, quase todos imaginando que a menor demonstração de interesse pela Copa seria vista pelos demais brasileiros como um sinal de incivilidade.
Um sentimento estranho. Viajei pelo Chile, de Santiago ao Estreito de Magalhães. Vi mais publicidade vinculada à Copa que no Brasil! Encontrei os chilenos vibrando com a Copa na América Latina. Torcendo para que o título fique na região, se possível com uma final entre representantes dos seus países, a Argentina fora, claro (eram chilenos). Sei que o mesmo sentimento se espalhou por Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Paraguai. Argentina, por que não? Uma latinidade construída pela genialidade de Lula, ao espalhar a competição por doze estados, aproximando-a dos vizinhos. Uma decisão insistentemente criticada pelos que não admitia ver os dólares do turismo distanciando-se do eixo Rio-São Paulo.
Estádios que não sairiam do chão foram concluídos, a maior parte em tempo de sediar a Copa das Confederações no ano passado. Estádios cuja conclusão chegou a ser estimada para 2038! A rede hoteleira mostrou ser capaz de abrigar o enorme fluxo turístico, de visitantes estrangeiros e de brasileiros.
Os estrangeiros foram chegando e decepcionando os ranzinzas ao elogiarem os aeroportos, vários avaliando o Galeão como melhor que os europeus e os dos Estados Unidos. Críticas de turistas e atletas visitantes foram tão raras que uma aranha em hotel virou manchete de jornal. As obras viárias em boa parte ficaram prontas também. Até Salvador ganhou seu metrô, uma obra que se arrastava há 15 anos.
Como se algo incompleto representasse alguma catástrofe. Isso ocorreu em todas as copas em que obras foram exigidas. Na da Alemanha por pouco não se tinha que interromper o jogo de nossa seleção diante da quantidade de água que vazava pela cobertura. A Notre Dame e a catedral de Barcelona ainda não estão inteiramente prontas e recebem milhares de turistas brasileiros por ano.
Manifestantes repetiam o mantra de mais verbas para saúde e educação, mesmo durante um governo que é recordista histórico em investimentos nessas áreas, além de conseguir, contra enorme resistência oposicionista, medidas legislativas estabelecendo porcentagem mínima do PIB e direcionamento exclusivo dos recursos do Pré-Sal. Além de criar dezenas de universidades e escolas técnicas, mais que todos os antecessores, e assegurar a presença de médicos em praticamente todas as cidades brasileiras.
A cantilena dizia que Copa não é prioridade. E o que é prioridade? Fórmula 1? Carnaval? Rock´n Rio? Festa do Divino? Festa Junina? Procissão de Corpus Christi? Brasileirão? NBB? Luta livre? Dois de Julho? Desfile de Sete de Setembro? Big Brother? O Boi de Parintins? A encenação de Morada Nova? Os filmes da Globovídeo? As cavalhadas de Pirenópolis? O reveillon de Copacabana? Então nada mais se deve fazer – coisas que me agradam e outras que detesto – que implique em uso de recursos públicos, salvo investimentos em saúde e educação?
Nada disso surpreende. Publiquei em meu blog sucessivas crônicas de Nelson Rodrigues em que fica clara a irrefreável tendência da mídia nacional de malhar a seleção nacional. É o “complexo de vira-latas”, título de uma de suas crônicas antológicas. Acompanho futebol atentamente desde a infância, copas do mundo desde a de 1958 (uma transmissão via rádio em que se ouvia mais descargas que narração) e posso garantir: salvo em 1982, em que perdemos o título com um time realmente memorável, todos os escretes canarinhos saíram daqui sob vaias estrepitosas. E trouxemos cinco títulos. Durante eliminatória da que trouxe a taça pela última vez, a torcida lançava bandeiras nacionais no gramado em sinal de protesto. Entrou de mãos dadas na partida seguinte, no Recife, e aplicou 5 a 0 na Bolívia.
Desta vez, os atletas não são vaiados. E por um motivo muito simples. Não sobraram vaias, todas elas induzidas para as obras e a própria iniciativa de realizar a Copa do Mundo no País.
Pois bem, já às vésperas da abertura dos jogos, vimos surgirem as primeiras manifestações de apoio à Copa e à Seleção. Timidamente no começo. Depois, em um crescendo: carros, ruas, casas, lojas, bares e restaurantes foram se cobrindo de amarelo e verde. Já não dava pra segurar. A mim, não sei se estou enganado, pareceu que alguns jornais quase que instituíram editorias separadas. À de esportes, cabia cobrir a seleção. Outra insistia em tentar ainda desqualificar o evento e tudo que a ele estivesse ligado, além de cobrir manifestações de protesto, mesmo que reunindo poucas dezenas de pessoas. A última, meio clandestina no início, ficou atribuído cobrir a expressão de adesão popular à Copa.
A TV ligada no restaurante em que almocei hoje mostrava uma coisa insólita. Os repórteres cobriam preparativos para a festa de início da Copa com forçado riso nos lábios, como que tentando convencer o público de que também a emissora fosse adepta do evento. A âncora quase gargalhava ao falar, testando sua habilidade cênica.
Não importa. A seleção está em campo e o Brasil está unido com ela. Não será uma aranha em parede de hotel que vai arranhar a festa.
Acredito que o Brasil será hexa. Se não for, já ganhou um título e este é mais importante. Está sediando um evento da maior importância no mundo, dando mostras de competência tecnológica, de capacidade de realizar inúmeros e imensos investimentos simultaneamente, ainda que sob responsabilidades diversas, como estados, municípios e empreendedores privados. E tudo fez sem comprometer o atendimento das maiores prioridades. E auferindo, claro, os merecidos frutos, com o turismo dinamizando a sua economia e fixando raízes em todo o País.
O Brasil já está em campo. A Copa nós já ganhamos. Tomara que dê também pra ganhar o hexa.  
Fernando Tolentino


 

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