São 33 anos.
Como todos os partidos, o PT perdeu e ganhou militantes ao
longo desse tempo. Perdeu militantes apaixonados, mas ganhou uma multidão de
novos filiados.
Cresceu e amadureceu, chegou à Presidência da República e ao
governo de vários estados e municípios brasileiros.
Deixou de ser, assim, um partido que existia apenas no
movimento social. Um partido forte nos sindicatos, nas comunidades eclesiais de
base, no movimento estudantil, nas lutas da sociedade.
Mas fora do poder real. Detendo apenas a condição de
denunciar os problemas e pressionar por mudanças.
Paradoxalmente, foi justamente essa a razão para a perda de
muitos militantes, companheiros que não imaginavam o PT governando. Até queriam que ganhasse
eleições e lutaram denodadamente por isso. Uns até 1989, quando o PT disputou
as eleições em aliança com o PCdoB e o PSB, já na época havendo quem se
repugnasse com tal abertura. Outros iniciaram o afastamento quando, em 1884, a
aliança se ampliou e Lula teve a companhia de Leonel Brizola na chapa. Nova
leva de desfiliações na disputa de 1998, várias em estados que candidatos
petistas passavam a governar. Eram companheiros honestos, muitos deles socialistas
sinceros. Mas preferiam o PT refém de
amplas maiorias parlamentares conservadoras. No governo, mas sem governar. No
entanto, puro!
Essa legião de ex-petistas questionava se valia a pena o
Partido curvar-se às circunstâncias da realidade para conseguir governar. Muitos
não aceitavam alianças, mesmo no campo da esquerda, por verem perspectivas
diferentes nos partidos que se agregaram às nossas candidaturas. Um vez nos
governos, enojavam-se com a presença de outras legendas nas coalizões que se
formavam para garantir a chamada governabilidade.
Quando Lula ganhou em 2002, ficou atravessada na garganta de
muita gente a aliança que viabilizou a vitória. A presença no palanque de
políticos fortemente identificados com o passado e propostas reacionárias. O
mais emblemático foi José Sarney, um oligarca que controla o Maranhão como
capitania de sua família e resiste a mudanças em sua realidade.
A verdade é que o ex-presidente da Arena e do PDS não aderiu
a Lula como uma mera escolha. Antes, foi para isso empurrado pelo candidato
tucano José Serra, quando esse tramou contra a candidatura da filha do oligarca
maranhense, Roseane Sarney, que despontava com ares de triunfante no segmento
conservador do eleitorado, ameaçando com isso os sonhos de Serra.
Embora confesse que não gostei do cheiro daquela aliança e tenha
clareza de que, na coalizão de apoio a Lula, Sarney jamais esteve entre os que
empurravam o governo para o avanço e sempre foi extremamente cioso de espaços
no Executivo, o certo é que apoiou Lula na campanha da reeleição, manteve-se ao
seu lado nos dois mandatos e repetiu o gesto com Dilma Rousseff. Mais: puxou boa
parte de seu partido (e até outras forças conservadoras para a base de apoio) e
contribuiu para alinhar forças pemedebistas estaduais.
Em 2002, os nossos companheiros não torceram o nariz somente
para Sarney. Não foi fácil engolir José de Alencar, um empresários filiado ao
PL, como candidato a vice-presidente. A história, no entanto, mostrou que ele
esteve em muitos momentos entre os que forçavam os avanços, não raro como
posições mais progressistas que partidos e políticos identificados como de
esquerda.
Alinho-me entre os que, no início do primeiro governo Lula,
preferiam uma aliança com o movimento social e lamentam o relativo distanciamento
com relação a essa força, que é íntima de nossa história, até colocando-se em
nível secundário várias de suas principais reivindicações, como a reforma
agrária. Vejo também no caráter de nossas companhias a postergação – muito além
da conveniência e da necessidade – de avanços fundamentais (e agora comprovadamente
inadiáveis) como as reformas política e tributária.
Mas a verdade é que o PT, mesmo governando sem ter efetivamente
o poder, ou seja, com os limites impostos por nosso sistema político e o nível
de politização ainda incipiente de grande parte da população, conseguiu ter a
liderança do processo.
Impôs inúmeras conquistas pelas quais lutava desde a sua
criação, deixando claro para a população quais as diferenças concretas de
governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores.
Isso é o que salta aos olhos com a emancipação da miséria de
milhões de famílias brasileiras, com a transferência real de renda causada pelo
aumento do salário mínimo, dos salários dos demais trabalhadores e proventos de
aposentadorias e pensões, com a distribuição quase universal de energia elétrica,
com o PROUNI, o Minha Casa, Minha Vida, a Bolsa Família e tantos outros
programas sociais de amplo alcance. Mas também com a criação do Prodeb ou a de
universidades e descentralização dos seus campi, instituindo o acesso a cursos
superiores onde antes isso nem sequer era um sonho, a criação também de
diversas escolas técnicas, o
retorno da produção naval no País, o reforço da agricultura familiar, a baixa
significativa (e definitiva) da taxa de juros e, principalmente, o uso do
sistema público de crédito para forçar também que caíssem os juros na ponta do
processo. E mais o que há!
Em 2012, ao ver o governo Dilma criar o programa Brasil Carinhoso,
me questionei por que precisava parcelar o pagamento do Imposto de
Renda. Havia pouco que lera sobre o movimento de grandes empresários
europeus que, no início da crise que insiste em perdurar, propunham
aumento de impostos para os ricos. Mesmo não sendo um deles (nem
pretenda sê-lo) achei que, revelando merecer concretamente a minha
confiança, poderia perfeitamente antecipar as parcelas e ver o governo fazer o que eu faria, na forma de caridade, caso adiasse o pagamento.
Conseguiu mais ainda. Unir-se a vários países do mundo
(especialmente da América Latina) que talvez não conseguissem manter governos
progressistas sem a solidariedade concreta do Brasil.
Aliás, no campo internacional, basta lembrar que a Alca era tida
como inevitável no momento da primeira posse de Lula. Ou que o FMI era o real
governo da política econômica do País. O Brasil – com Lula e, agora, Dilma –
deixou a condição de país periférico e absolutamente dependente para figurar
como protagonista das grandes decisões mundiais.
Estamos ainda muito longe do socialismo com que sonhei desde
a adolescência, mas nunca imaginei que estava lutando por algo de que eu próprio desfrutaria e, com o PT, não estamos marchando em direção oposta, para o atraso. Vejo alcançadas muitas das conquistas pela quais lutei. E já
antevejo novos avanços. Sinto-me recompensado por militar nesse partido.
Devo parabenizar o PT, mais sinto que é o caso de
cumprimentar a maioria do povo brasileiros e os povos explorados de todo o
mundo.
Fernando Tolentino
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