domingo, 16 de março de 2014

EU TENHO UM SONHO






É este sonho que me traz até aqui. Foi este sonho que me fez militante, que me jogou na luta e se fez sentido de minha vida.
Este sonho fez o sentido da vida de milhares de brasileiros que estavam comigo nas ruas de Salvador, de jovens que caminhavam juntos em centenas de ruas de cidades brasileiras.
Quando pisava o chão daquelas ruas, elas eram também a estrada para a construção do sonho não só de gente próxima de mim, mas também de gente distante, de quem a história de luta nos embalava. Como Luís Travassos, José Carlos Matta Machado, Jean Marc, Wladimir Palmeiras, José Dirceu e tantos outros.
Faz exatamente uma semana que conversei sobre esse sonho com o jovem João Paulo. Ele falava do sonho que vara gerações. O sonho que embriagou essa turma de jovens que se mantinha acampada desde a prisão de José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, em 15 de novembro do ano passado.
Falamos sobre o significado simbólico do que eles estavam fazendo há quatro meses. Não apenas para os companheiros presos, para que não se sentissem isolados, abandonados. Como nos mandou dizer hoje Miruna, filha de José Genoíno, e nos falou Joana, a filha de José Dirceu, revelando passar na Trincheira da Resistência às quartas-feiras para ali ganhar forças para visitar o paí. 
Não só a importância do gesto, para deixar claro aos ministros do STF, à grande mídia, que não temos do que nos envergonharmos dos companheiros presos. Ao contrário, o que nos causou asco foi a evidência de que a democracia parecia não ter atravessado a Praça dos Três Poderes, de como era possível tramar para que um processo (e só esse processo, como se outros não houvesse) levasse o Partido dos Trabalhadores ao holocausto moral.
Fizeram mais aqueles companheiros que, na prática, como que se declararam espontaneamente prisioneiros para evidenciarem a solidariedade aos condenados do PT. Conseguiram transmitir à sociedade brasileira aquilo que berravam aos ouvidos dos magistrados. Por isso eles foram fundamentais para estimular a militância petista e as pessoas ávidas por Justiça nas vaquinhas que permitiram o pagamento das multas dos companheiros.
Falamos, eu e João Paulo, sobre a importância disso para a juventude. O gesto deles, como nenhum outro, ecoou onde estavam jovens obstinados por Justiça em qualquer lugar do Brasil. E é preciso que estejam conscientes disso todos os que permaneceram todo esse tempo acampados. A tal ponto que passaram por ali militantes mineiros, goianos, cariocas, paraenses.
E João Paulo, falando do que a nossa geração significou de referência para deles, perguntava: “E os que virão depois de nós?”
Esse é o verdadeiro sonho, João Paulo. Um sonho que os conservadores não conseguem entender, que chega a ser criminalizado como se deu até nas palavras vãs de um membro da mais alta Corte.
Junto a referências como Genoíno, Dirceu e tantos mártires da luta por liberdade, os que virão depois de nós terão exemplos como o seu.
Obrigado, João Paulo.
Fernando Tolentino

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