se já não há um solo fértil a regar?
Por que as águas não cessam
se as sementes estão espalhadas em outras paragens,
se ali, onde a terra se racha de uma aridez incorrigível,
o húmus espera uma gota, uma brisa que espalhe ao menos umidade,
pra brindar a paisagem de verde?
Para que se precipitam as nuvens
se as águas correrão sobre o solo sem encontrar onde se acomodar?
Se as águas se transformarão em torrentes, bravias, inconformadas,
como a vingar a sua inutilidade.
Onde aquele solo túmido, prenhe, vesperal?
Esta terra nem sempre foi tórrida, infértil,
indiferente à provocação das águas.
Neste solo, o verde prometia rebentar a cada gota que lhe umidificava.
Ao menor estímulo, a vida se mexia, se criava, sorria.
Este solo se fechou.
Impermeável, tornou-se uma laje e aprisionou a riqueza no seu ventre.
Para a água que insiste em molhar
resta a certeza de que, expulsa daqui,
pode ser recebida mais ali,
onde uma possível natureza, latente, paciente,
prepara uma festa.
Fernando Tolentino
Pai, que lindo seu lado poético... adoro poesias que metaforizam a partir da natureza, pois somos seres naturais... que a semeadura favoreça bons frutos.. que o grande ventre fértil reconheça seus ciclos e amadureça em momentos propícios.. a fonte que irradia vida está sempre como possibilidade, um vir a ser.. Beijos grandes.
ResponderExcluirLindíssima poesia! Tão linda que conseguimos sentí-la não apenas com os sentidos, mas principalmente com a alma.
ResponderExcluir