domingo, 8 de agosto de 2010

BRASÍLIA PRECISA DE ARLETE


Quando, em 1984, renunciou ao Governo de Minas Gerais, que assumira um ano e meio antes, para concorrer à Presidência da República, Tancredo Neves espantou muita gente. Se contasse com toda a oposição no Colégio Eleitoral, ele teria 330 contra 356 do PDS e o PT já antecipara que não participaria, além do que o adversário, Paulo Maluf, andava cooptando vários outros votos. Questionado por jornalistas sobre a troca do certo, o governo mineiro, pelo duvidoso, Tancredo citou a eleição de 1910, quando Rui Barbosa foi candidato em nome da Campanha Civilista. Tancredo perguntou se alguém sabia o nome do vencedor da eleição. Ninguém lembrou o nome de Hermes da Fonseca. E Tancredo argumentou que não se entra em uma disputa apenas para ganhar. Às vezes, o mais importante é o papel histórico que se cumpre.
Não dá para comparar Arlete Sampaio com Tancredo Neves, um político conservador, vinculado a importantes interesses econômicos e de tradicional relacionamento com as principais lideranças políticas e militares do antigo regime militar. A semelhança está no fato de que Arlete Sampaio se dispôs a disputar duas eleições majoritárias contra candidatos que tinham tudo ao seu favor. E, por isso mesmo, somente Arlete teve a ousadia de concorrer.
Na primeira, era vice-governadora e tinha tudo para ganhar um mandato legislativo. Na segunda, era deputada distrital. Chegara à Câmara Legislativa como recordista de votos e cumpriu um mandato admirável, que fatamente lhe garantiria um novo mandato parlamentar. Como o PT e, principalmente, Brasília precisavam enfrentar Luis Estêvão para o Senado, em 1998, e José Roberto Arruda, para o GDF, em 2006, Arlete Sampaio aceitou a tarefa nas duas vezes. Em ambas, foi derrotada, mas cumpriu o papel histórico. Os dois não concluíram seus mandatos, diante da comprovação de envolvimento em corrupção.
Causaram enorme decepção em milhares de cidadãos brasilienses, passaram-lhes a impressão de que a política, em si, é uma atividade repugnante, abjeta, e abriram espaço para a conclusão de que fora um erro a conquista de nossa autonomia política. Pior, projetaram isso para políticos e cidadãos de todos os Estados. Com Arruda, a situação ainda ficou mais complicada, pois a Caixa de Pandora pôs a nu o envolvimento de pelo menos um terço da Câmara Legislativa.
É por isso que a eleição deste ano não é como qualquer outra. Não basta o eleitor garantir que vota em quem confiem integralmente. A Câmara vai precisar de deputados que contem com a confiança de de toda a nossa sociedade e mesmo dos políticos do resto do País e, entre eles, quem possa liderar a Casa para que reassuma o seu verdadeiro papel político e institucional. Só assim estará afastado o risco de uma mudança constitucional que retire a autonomia do Distrito Federal. É por tudo isso que Arlete Sampaio volta a abrir mão de outros projetos, administrativos ou políticos. É que, neste momento, Brasília e a Câmara Legislativa precisam de Arlete Sampaio.


Fernando Tolentino (jornalista, administrador público e militante do PT)

Um comentário:

  1. Excelente relato sobre um pouco da trajetória política de Arlete.
    Arlete não é do tipo que só quer o poder, como diz o texto, ela sempre abriu mão de concorrer a cargos em que a vitória era certa, em favor do Partido dos Trabalhadores, a qual pertence e honra, e sempre pensando em Brasília e no Distrito Federal. Arlete é compromisso!

    ResponderExcluir