terça-feira, 29 de junho de 2010

EM QUEM SE FIA SOFIA PRA FAZER ESSA TAL ESCOLHA?

Este é um texto que temos encaminhado aos militantes tucanos da internet. Ou quem – ingenuamente ou não – ajuda essa gente, reenviando os seus arquivos. Refere-se a um texto intitulado “A escolha de Sofia”, em que o autor declara o voto em José Serra, com a dissimulada alegação de que não é um voto nele, mas um voto anti-PT. Como Serra não agrada ninguém, tenha justificar seu voto como uma anti-escolha. Coisa de encomenda.
Há quem envie esse texto sem avaliar adequadamente o que está fazendo. Não entende o quanto está se expondo. Pensa que, para alguém, é uma atitude lógica essa história de “estou só reenviando; não quer dizer que concorde com o texto...” É até possível que alguém receba o texto assim, sem incorporar a quem encaminha o posicionamento do autor. Mas isso é rigorosamente uma exceção.
Ou você pode distribuir esse texto simplesmente porque encontrou um pretexto para votar em Serra. Se é assim, vote em Serra. Sem dó nem piedade. É um favor que lhe peço. Não vá perder seu tempo adotando outras opções, pois elas não refletem a sua forma de ver o mundo.
Mas não faça como o autor dessas linhas enviesadas. Diga que Serra é melhor, que é elegante, preparado, educado, culto, lindo...
Diga o que quiser, mas diga. Tenha a compostura de assumir que quer votar na direita e não precisa ficar atrás de desculpa pra isso. Esta é uma eleição plebiscitária. Vota-se para aprofundar as mudanças (com Dilma) ou para detê-las (com Serra). O meio termo é só um faz-de-conta.
Não faça de conta que enxerga os erros de Serra, porque, assim como o autor, você não os enxerga ou não os considera erros, mas rutilantes virtudes.
Pra começar, Serra já foi liderança estudantil, chegou a presidente da UNE (mas isso Marco Maciel, que frequenta os mesmos palanques, também foi), no tempo em que isso não significava necessariamente uma opção por uma sociedade igualitária. Antes do regime militar. Era de Ação Popular, antes de AP fazer a opção de luta pelas classes mais desfavorecidas, pelos explorados da sociedade.
Mas, é forçoso reconhecer que a organização em que Serra militou – Ação Popular – veio, depois, sim, a fazer o enfrentamento com a ditadura militar. Aliás, a AP é dada como responsável pelo Atentado de Guararapes (25 de julho de 1966), primeira ação armada contra a ditadura. Uma bomba explodiu no saguão do
Aeroporto Internacional do Recife quando ali deveria estar desembarcando o general Arthur da Costa e Silva, que viria a ser tornar presidente da República. Morreram o jornalista Edson Régis de Carvalho e o almirante Nelson Gomes Fernandes, ferindo-se outras 13 pessoas.
Ninguém vai querer insinuar que, entretanto, José Serra foi terrorista, como o insidioso texto sugere com relação a Dilma, por se atribuir à organização de que ela fez parte a responsabilidade por ações armadas. Ela não participou disso. Nem ela, nem Serra.
Por isso, engana-se quem diz que Serra saiu do Brasil para fugir do regime militar. Não fugiu de nada. Serra nunca foi perseguido. Ele apenas resolveu morar no exterior. O regime militar perseguiu muita gente elitista como ele quando recrudesceu a violência: Carlos Lacerda, Ademar de Barros, até Magalhães Pinto.
Depois, voltou. E, como na época era distinto dizer-se pelo menos social-democrata, subiu em vários palanques libertários. Só isso.
Hoje, é conhecido por colocar a polícia na rua com a missão determinada de espancar professores, infiltrando policiais no movimento deles, além de descumprir acordo firmado com o próprio presidente da República e sequer receber a presidente da entidade representativa da categoria.
É o candidato adequado para quem tem horror a movimentos de trabalhadores, gente protestando na rua, suada, gritando palavras de ordem.
Para quem prefere os que marcam audiências fechadas, longe de testemunhas, para defender seus interesses superiores, usando para isso assessorias, lobbies, etc. Nas audiências, com modos recatados, mas o dedo em riste, mostra que nada deve mudar. Quem devem continuar prevalecendo os interesses das "classes produtoras". Assim chamados os grandes fazendeiros (aqueles que nunca pagam impostos e conseguem jogar nos seguros bancários os empréstimos que não querem pagar), a classe exportadora, os industriais, os representantes de multinacionais, os banqueiros (essa gente “impoluta”), os grandes comerciantes e atravessadores. Sim, e a classe média alta, metida a rica, sempre que der.
Porque eleição é pra isso. Vota de um lado quem tem compromissos com a maioria da população. Se é um despossuído, vota por isso. Se não é, vota porque tem motivação para, mesmo perdendo um pouquinho, ajudar a promover o bem-estar de mais gente.
Vota do outro lado quem quer manter um enorme contingente de desempregados, pois, se não houver desempregados, os salários podem subir muito. Quem quer manter milhões de trabalhadores sem a carteira assinada, pois esses trabalhadores têm muito mais medo dos patrões e, assim, se tornam dóceis, submissos. Quem quer arrochar servidores públicos e, sempre que possível, reduzir o número deles, para aumentar o superávit, tão necessário para os que sempre estiveram pendurados no governo. Quem não quer políticas compensatórias, distribuição de bolsas para os que nada têm, pois sobraria dinheiro para abastecer as contas dos milionários do PROER, do seguro agrícola e outros mecanismos voltados para compensar riscos das classes abastadas. Quem não quer trabalhadores na política ou quaisquer outros cargos decisórios de quaisquer dos poderes. E os que não percebem nada disso e são manobrados pelos que não querem reforma política e gastam fortunas em eleições.
Se realmente é isso, não deixe também de mandar textos que ajudem a campanha de Serra, mesmo quando souber que obviamente (como quase sempre) saíram dos laboratórios da assessoria contratada para fazer a guerra da internet. Assessoria que vem executando fielmente a missão de inventar mentiras, falsificar documentos, espalhar intrigas. O que importa? O fim justifica os meios.
Como este. Parece incrível tentar-se identificar o autor como alguém não alinhado com a política tucana, mesmo revelando-se que se trata de um membro-fundador do Instituto Millenium. Seu curriculum, portanto, pode até ser extenso, mas, pelo menos para mim, nada tem de respeitável. No texto não deixa dúvidas, ao identificar limites éticos no PSDB e alegar que o PT aparelhou os três poderes da República. Não sei onde ele vivia quando da nomeação de Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal.
Esse tipo de arquivo pode ser mandado para quem prefere o Serra e sua gente. Para quem acredita nele. Ou não acredita, mas prefere fingir que sim. Pode manda-lo tamabém para os muito ingênuos. Ainda há por aí.
Poupe os demais, pelo menos para desperdiçar o seu próprio esforço ao espalhar invencionices que já não enganam ninguém.
Fernando Tolentino e Vanessa Ottoni de Brito (28 de junho de 2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário