Viva o Chile?! Então
não foi justamente o Chile que nos vendeu caro a derrota nessa última partida?
Não foi o Chile que nos exigiu a disputa de pênaltis depois da prorrogação,
praticamente fazendo parar os corações de todo o País? Chegando, no final, a
arrancar lágrimas de nós.
Sim. É a esse Chile que
eu quero bem. Passei lá um pedaço de minhas férias há não mais que dois meses.
Fui a Santiago, Valparaíso, Viña del Mar, Puerto Montt, Puerto Varas, Frutillar
e Punta Arenas e Puerto Natales.
Fui recebido como
sempre pelos chilenos. Na primeira vez, em Santiago, tive a experiência de me
ver tentando encontrar um endereço e ser abordado por um chileno que não
esperou que lhe pedisse ajuda. Ele se adiantou a me perguntar se queria alguma
explicação e me deu todas as orientações.
Agora, encontrei o
mesmo povo acolhedor, o mesmo sorriso, o mesmo senso de humor que o torna
parecido conosco. Na capital ou quaisquer das cidades em que estive, os
chilenos queriam falar da Copa. “Nuestra Copa”, pois a tinham como uma
conquista dos países do Sul, da América Latina. E lançavam imediatamente um
plano conciliador, o de que queriam uma final latino-americana. “Solo no pueden
ser argentinos”, faziam a ressalva.
Pois foi esse Chile que
eu vi ter o seu hino vaiado no Mineirão. Entendo que não pode haver maior
desonra nacional.
No regime militar, chegamos
a tentar minimizar a força de nosso hino. O povo nos chamava à razão quando não
nos levantávamos no momento em que era executado nos estádios. Portanto, foi o povo
humilde que nos ensinou o significado de nosso hino. E ele se transformou em um
grito de luta. Até hoje, em milhares de vezes que o ouvi e o cantei, jamais consegui
deixar de cerrar os punhos no momento em que juramos: “Verás que um filho teu não
foge à luta”.
Sei que não foi uma
agressão do povo mineiro. A história e os valores nacionais são muito fortes
para os que vivem em Minas Gerais. Pude ver, depois, fotos de dondocas que
tanto vaiavam quanto agitavam pulseiras de ouro. Talvez um grupo muito
semelhante ao que puxou os xingamentos contra a nossa presidenta em São Paulo.
Definitivamente, os chilenos
não mereciam isso.
Peço humildemente desculpas
aos chilenos que vieram fazer conosco a “nuestra Copa”. Disso eu me envergonho.
Viva o Chile, país
irmão, vítima histórica de exploração muito semelhante à que submeteu o Brasil.
Vítima também da agressão suja contra a sua democracia, em que o presidente
Allende, democraticamente eleito, foi sacado do poder, da mesma forma que foi
destituído Goulart no Brasil. Um povo que teve a sua democracia agredida
justamente no momento em que abrigava tantos brasileiros que não tinham o
direito de viver aqui. Até brasileiros como Fernando Henrique Cardoss e José
Serra, tão caros a essa gente que xinga Dilma Rousseff em um dia e vaia o seu
hino nacional no outro.
Peço desculpas também aos
mexicanos, que escaparam de serem hostilizados, mas aos quais ainda não
agradecemos devidamente por participarem da “nuestra Copa”, ajudando a transformá-la
na melhor de todas as que se realizaram até hoje. Viva o México, tão gentil ao
acolher minha mãe em 1968, quando realizava sua pós-graduação.
Viva a Colômbia, com quem
vamos disputar a próxima partida.
Viva a Argentina. Por
que não? “Hermanos” mesmo, pois vivem historicamente as mesmas dificuldades que
nós, enfrentam os mesmos inimigos e são submetidos à mesma exploração. Só a esses
exploradores interessa que não tenhamos clara essa fraternidade.
Viva o Uruguai, o
Equador, a Costa Rica e Honduras. Viva a América Latina, que divide conosco a
honra de construir “la nuestra Copa”.
Viva a África e nossos
irmãos negros de Camarões, de Gana, da Costa do Marfim.
E viva também o povo
português e, junto com ele, os espanhóis, vítimas hoje de crise sem tamanho e
quase sem saída, ao menos nos marcos dos governos que escolheram para enfrentá-la.
Ou dourá-la.
Vivam os demais povos
que estão vendo o Brasil com tanta simpatia, desfrutando de nossas belezas e
delícias, destruindo preconceitos talvez.
Viva também o povo dos
Estados Unidos, pois está sendo marginalizado junto com os explorados do resto do
mundo. A crise não os poupou e milhares de pessoas vivem em túneis, sob as ruas,
em acampamentos, ou em seus automóveis.
O Brasil que sedia a
Copa das Copas não é o país que vaia os hinos de seus convidados, não é o país
que hostiliza estrangeiros, como também não é o que oferece as suas mulheres
para com eles se prostituírem.
No final da Copa,
haverá um vencedor. Queremos por tudo que seja o Brasil. Mas, a primeira
vitória nós já obtivemos. Estamos realizando uma linda festa para o nosso povo
e para os nossos visitantes.
O Brasil da Copa é o
povo que abraça, exibe sua cultura com orgulho, expõe a sua simpatia, não
esconde os seus enormes problemas, mas faz questão de dizer que vai resolvê-los
e não se furta a estender a sua generosidade aos demais povos do mundo.
É este o sentido da
Copa.
Viva o Chile!
Fernando Tolentino
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