Começou a corrida das
eleições municipais.
Em nada menos de 5.570
municípios (a exceção é o Distrito Federal) candidatos a prefeitos e vereadores
estão se apresentando aos eleitores até o dia 2 de outubro.
Se isso for perguntado
diretamente a esses eleitores, a quase totalidade dirá que a eleição é importante
principalmente por causa da escolha dos prefeitos. Muitos discorrerão sobre a
situação das suas cidades e mesmo da área rural, uns mais, outros menos
inteirados das propostas e promessas dos candidatos. Não poucos dirão que ainda
não estão por dentro disso, mas estarão atentos para fazerem a melhor escolha.
O voto para vereador é
colocado em segundo plano, muitas vezes decidido de última hora e por questões
quase nada políticas. Prevalece aquela máxima totalmente equivocada de que “eu
não voto em partido, voto em nome”. Equivocada porque, queira ou não, o eleitor
vota em partido, ainda que a decisão seja por um nome (a questão será tratada
em outro artigo).
A verdade é que, por
trás disso, há algo de que praticamente nenhum eleitor suspeita e que é tão ou
mais importante que a escolha dos prefeitos. E dá pra apostar que não haverá
nenhuma discussão sobre esse assunto durante a campanha!
Serão 292.483
candidatos a vagas em Câmaras de Vereadores: 23.562 na região Norte, 65.360 no
Nordeste, 27.425 no Centro-Oeste, 56.775 no Sudeste e 119.360 no Sul.
Muitos levarão
propostas para os seus municípios aos palanques e às conversas com os seus
eleitores. Mas muito dificilmente falarão sobre as suas articulações com
deputados estaduais e federais, os compromissos de apoiar as candidaturas deles
nas eleições de 2018.
E o que significa isso?
No dia 12 de abril, por
exemplo, 513 deputados federais decidiram sobre a abertura de um processo para
que a presidenta Dilma Rousseff pudesse ter o seu mandato extinto. Eram
precisos os votos de 2/3 dos deputados para que o processo do chamado
“impeachment” fosse encaminhado ao Senado: 367 votaram SIM e 137 votaram NÃO.
A grande maioria
daqueles deputados (mesmo os que se abstiveram ou se ausentaram
intencionalmente) foi eleita a partir do apoio dos vereadores que os caros
leitores elegeram em 2012.
Partido
|
Votos para vereador em 2012
|
Vereadores eleitos
em 2012
|
Deputados federais
eleitos em 2014
|
PMDB
|
11.124.296
|
7.964
|
66
|
PT
|
10.979.362
|
5.189
|
68
|
PSDB
|
9.020.087
|
5.256
|
54
|
PP
|
6.718.220
|
4.933
|
38
|
PSB
|
6.496.971
|
3.560
|
34
|
PDT
|
6.365.892
|
3.663
|
19
|
PSD
|
6.150.284
|
4.669
|
36
|
PTB
|
5.491.319
|
3.575
|
25
|
PR
|
5.098.173
|
3.191
|
34
|
DEM
|
4.701.720
|
3.282
|
21
|
Note que, salvo
ligeiras alterações, a votação dos partidos para cargos de vereador em 2012 e,
especialmente, o número de eleitos, projeta-se na quantidade de deputados
federais eleitos dois anos depois. Dá pra perceber alterações substanciais em dois
casos. O PDT não conseguiu, para deputado federal em 2014, desempenho
equivalente ao de vereadores dois anos antes. O PRB não foi uma das 10 legendas
mais votadas nas eleições municipais de 2012, mas elegeu o mesmo número de
deputados federais que o DEM para a atual legislatura.
Depois de convidado a
se candidatar a deputado estadual, em 1972, um amigo me mostrou a planilha com
a qual Antônio Carlos Magalhães argumentou que estaria virtualmente eleito. Tinha
a votação detalhada que lhe seria dada em dezenas de municípios do Estado. O
quantitativo de cada um correspondia à votação que seria assegurada por
vereador de cada município que seguia a orientação daquele velho cacique
político baiano.
Os deputados eleitos
com o apoio dessas “bases municipais” têm uma pauta para votar pela frente em
que os leitores certamente gostariam muito de interferir.
Afinal, só um tolo
acredita que o Congresso está empenhado em derrubar Dilma por causa de “pedaladas
fiscais” (já contestadas em nível técnico) ou por três decretos de crédito
orçamentário. O problema real é que o eleitor de 2014 votou em uma direção para
presidente e no sentido contrário para deputados federais. Daí, Dilma virou um
obstáculo para o que esses parlamentares queriam aprovar.
Foi o entusiasmo com a
demonstração de força demonstrada por essa bancada conservadora na vitória na
votação do afastamento de Dilma que demonstrou a viabilidade dessa pauta, que é
proposta pelo presidente provisório, ainda que, em 2014, Dilma fizesse – ao seu
lado e com o seu apoio – um discurso absolutamente contrário.
Já foi aprovado projeto
de lei que congela os recursos públicos para saúde e educação, além de impor
regras rígidas com relação à administração pública, inclusive dos estados. Isso
significa que pode ser vedada a contratação de novos servidores, concursos
públicos e reajustes salariais. Foi aprovado também que a Petrobras não tem a
garantia do mínimo de 30% na exploração do Pré Sal.
Há muito mais coisa
pela frente, boa parte já anunciada pelo presidente provisório Temer ou seus
ministros. As aposentadorias só serão concedidas por idade, aos 65 anos, e será
definida uma regra em que os trabalhadores com mais de 50 anos terão de cumprir
um tempo extra para aposentar-se. O detalhe é que desaparece o diferencial de
idade entre homem e mulher ou, pelo menos, reduz-se substancialmente essa
diferença, que hoje é de cinco anos. Além disso, o piso das aposentadorias
perdem a vinculação com o salário mínimo e não haverá mais aposentadorias
especiais, com tempo reduzido, como as de policiais e professores, por exemplo.
O salário mínimo deverá
deixar de ter assegurada a reposição da inflação do período (hoje ainda é
garantida a taxa de crescimento do PIB quando ela ocorre) e as demais garantias
trabalhistas (13º salário, adicional noturno, férias, jornada máxima de 44
horas semanais, entre outras) serão definidas em negociações dos sindicatos com
os empregadores.
Vai se mexer também no
vínculo de emprego dos trabalhadores, aprovando o projeto que libera totalmente
a terceirização da contratação de pessoal. Assim, os trabalhadores prestam
serviço a uma empresa, mas o seu empregador é outra.
A assistência à saúde
deixa de ser assegurada pelo SUS, prevendo-se a criação de planos de saúde aos
quais os trabalhadores deverão aderir. Os fundos de pensão dos servidores de
estatais deixarão de ter representação paritária dos trabalhadores, além de
representação deles nas diretorias.
O governo será
autorizado a privatizar todas as empresas públicas que entender dispensáveis, o
que deve atingir inclusive os Correios, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Está em estudo e deve
ser apreciada pelo Congresso também a extinção da gratuidade nas instituições
federais de ensino a partir da falsa avaliação de que essas instituições são
utilizadas por estudantes em condições de pagar anuidades. Pesquisa realizada
pela Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de
Ensino Supeior) revela que 44% do corpo discente é egresso das classes C, D e E
e 45% dos estudantes vieram de escolas públicas .
Ao lado disso, diversas
medidas administrativas serão tomadas com o apoio desses deputados que apoiam o
governo provisório caso ele venha a se efetivar, com o afastamento definitivo
de Dilma Rousseff. Já foi anunciada a redução de 65% dos orçamentos de investimentos
das universidades federais, já foi estabelecido o congelamento do programa
Ciência sem Fonteiras, ao menos por enquanto para os estudantes de terceiro
grau, assim como o do programa de financiamento estudantil, além do Minha Casa
Minha Vida. No momento, está em discussão se é prorrogado o Mais Médicos.
Os vereadores eleitos
em outubro deste ano já têm esse compromisso de apoiarem candidatos a deputados
estaduais e federais em 2018. Ou negociarão esse apoio daqui até lá. Isso vai
ocorrer no nome do meu caro leitor, embora você não venha a ser consultado.
Em outras palavras, a
força dos partidos na composição da Câmara dos Deputados em 2018 vai depender do
seu voto agora para vereador. Se votar em vereador de um partido, vai estar lhe
proporcionando a condição de eleger deputado federal daqui a dois anos.
Pra não deixar dúvida, quaisquer
que sejam as propostas dos candidatos a vereador, você muito provavelmente vai
votar em um cabo eleitoral.
Fernando Tolentino
Estou pretendendo mandar um questionário para alguns candidatos a vereador, quanto a forma como ele, e seu partido vêem os temas os temas que estão me afligindo e dependam da administração municipal. Votarei naquele que alcançar maior equilíbrio entre meus desejos e suas preocupações. Caso nenhum preencha, irei anular o meu voto, por não haver indiferença entre os candidatos. Neste sentido, seu artigo me foi muito inspirador.
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