Concluída a Olimpíada Rio 2016, os grandes vitoriosos não foram somente o Brasil e o Rio de Janeiro, como realizadores, ao lado das demais cidades que também sediaram eventos.
Foi a primeira vez que a Olimpíada foi realizada no Hemisfério Sul. Por isso, em visita a Cuba, eu vi tanta vibração com a conquista, a ponto de os cubanos a chamarem de “nossa Olimpíada”. Na sua avaliação, muito bem assinalou o ex-presidente Lula, responsável por essa conquista: nunca o Brasil e o Rio de Janeiro foram exibidos para tanta gente em todo o mundo.
Claro que houve problemas, mas isso ficou muito distante do que previam os pessimistas e tais problemas não foram em menor número ou de menor importância do que os registrados quando os jogos foram realizados em países ricos.
Por um dever de justiça, já que não ouvi falar que isso tenha sido
mencionado em jornais, TV ou transmissões de rádio, sinto-me na obrigação de
agradecer ao ex-presidente Lula por nos presentear com essa festa maravilhosa.
Agradecer à presidenta Dilma por ter propiciado as condições para que fosse
realmente um sucesso. E a todos os que estiveram direta ou indiretamente
envolvidos com a sua realização. Tenho certeza de que os demais países se juntam
nesse agradecimento. E mais que o resto do planeta, o Hemisfério Sul, que viu
demolido o preconceito de que grandes realizações são exclusividade das
poderosas economias da banda norte do mundo.
A Olimpíada ainda permitiu que se rompesse o cerco midiático com relação
aos protestos contra o golpe que está sendo desferido contra Dilma Rousseff e a
democracia. As movimentações da presidenta e as manifestações populares são
escondidas das manchetes de jornais e das imagens de TV. Tudo foi tentado para
que a Olimpíada não pudesse funcionar como essa caixa de ressonância, tendo que
se recorrer à Justiça para que a liberdade de expressão fosse assegurada nas
cenas dos jogos. No fim, o mundo viu que o povo não está docilmente aceitando
esse atentado político. Até porque foi possível ver um Michel Temer acovardado. Na cerimônia
de abertura, tratou de se esconder, nem sequer permitindo que o seu nome fosse
citado, o que não impediu vaia estrepitosa quando fez o seu pronunciamento de
poucos segundos. Na de encerramento, preferiu cometer uma gafe diplomática, não
comparecendo para passar o bastão ao primeiro ministro Shinzó Abe, do Japão,
país que promoverá a Olimpíada de 2020.
O País deu prova também de que não é mais um concorrente inexpressivo, apesar de seu imenso território e sua não menos significativa população.
Continuou se revelando um vencedor em esportes em que tradicionalmente era um dos que disputavam medalhas. Mas programas governamentais de preparação de atletas se mostraram bem sucedidos.
O beneficio da Bolsa Atleta, que apoia a prática de quase todas as modalidades olímpicas desde 2005, atingiu 358 dos 465 esportistas que representaram o Brasil na Olimpíada, 77% do total. O programa beneficia 6.152 atletas de todo país, com um custo anual de R$ 80 milhões.
Em 2013, o governo lançou o Bolsa Pódio, voltado para competidores medalhistas e que conta com patrocínio de estatais. Foram investidos no programa R$ 287,3 milhões, beneficiando 399 atletas.
Foi também instituído em 2008 o Programa Atletas de Alto Rendimento, vinculado às Forças Armadas. Nesta Olimpíada, quase um terço dos atletas brasileiros, um total de 145, eram militares. Esse grupo conquistou 12 das 19 medalhas obtidas pelo Brasil. Atualmente, cerca de 670 atletas fazem parte da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica.
O resultado foi o melhor já obtido pelo Brasil em toda a história de sua participação em Olimpíadas. Classificou-se em 13º lugar entre os detentores de medalhas, com o número jamais obtido de 19 medalhas e também com o feito inédito de conquistar 7 medalhas de ouro. Isso pode melhorar muito nos futuros jogos se esses programas forem mantidos ou até incrementados, como pretendem os militares.
Com tantos atletas brasileiros bem sucedidos em suas modalidades, vários com medalha de ouro, qual foi o maior? Qual o merecedor de maior admiração do público de todo o País?
Thiago
Braz - atletismo: Robson Conceição - boxe; Isaquias Queiroz - canoagem de
velocidade; Wéverton, Uilson, William,
Douglas Santos, Zeca, Rodrigo Caio, Luan zagueiro, Marquinhos, Thiago Maia, Rodrigo Dourado, Fred,
Rafinha, Felipe Anderson, Renato Augusto, Wallace, Neymar, Luan atacante, Gabriel
Barbosa, Gabriel Jesus - futebol; Arthur Nory - ginástica artística (bronze);
Diego Hypolito - ginástica artística (prata); Arthur Zanetti - ginástica artística
(prata); Rafael Silva - judô (bronze); Rafaela Silva - judô; Mayra Aguiar - judô;
Poliana Okimoto - maratona aquática; Maicon de Andrade Siqueira - taekwondo
(bronze); Felipe Wu - tiro esportivo (prata); Martine Grael,
Kahena Kunze - vela; Bruninho,
William, Raphael, Wallace Souza, Evandro, Wallace Martins, Lucão, Isac, Sidão,
Éder, Maurício Souza, Murilo, Lucarelli, Lipe, Lucas Lóh, Douglas, Serginho,
Tiago Brendle - vôlei; Agatha, Bábara - vôlei de praia (prata);
Alison, Bruno - vôlei de praia.
Multado
se falou Neymar! Está apenas repetindo o que ouviu algum profissional de TV se
esgoelar para lhe convencer disso.
Cada um desses atletas tem a sua história de superação. É certo que há
quem tenha nascido e se criado em um berço favorável, onde já era praticado (e
vitorioso) o esporte a que se dedicou, como são os casos de Bruninho (vôlei) e Martine
Grael (vela). Mas é inconcebível considerar que não tenha sido enorme o esforço
mesmo desses para chegar ao nível atingido. Para outros, a luta ainda foi
maior. Às vezes, muito maior. E ficou gravada para todos a história de Rafaela
Silva, como a de Izaquias Queiroz.
Mas o que dizer de atletas que voltaram para casa sem medalhas? De Marta,
de Bárbara, de suas companheiras da maravilhosa equipe de futebol feminino ou
de Caio Bonfim, com incrível história de superação de problema congênito e que
lindamente sintetizou o seu resultado, lembrando que foi o quarto de todo o
mundo na marcha atlética.
Desculpe-me o folclórico Neném Prancha, que fixou para sempre, como uma
de suas frases lapidares, que “o pênalti é tão importante que devia
ser cobrado pelo presidente do clube.”
Esta
Olimpíada me permitiu contestá-lo. Ganha a medalha de futebol, fomos
bombardeados com a versão de que devíamos aquilo a Neymar. Ele pode até ser o
atleta mais caro, o de salário invejável. Mas a verdade é que ele foi apenas o
quinto cobrador de pênaltis em uma série de cinco em que todos converteram em
gols. Portanto, se alguém garantiu a medalha, esse fulano foi o goleiro
Wéverton, que impediu o quinto gol dos alemães. Anote aí, Neném Prancha: “o
pênalti é tão importante que o goleiro devia ser o presidente do clube.”
Pessoalmente, eu estou convencido de que cada um de nossos atletas foi o
maior de todos.
Fernando
Tolentino
Um texto muito precioso por reconhecer valor a quem realmente o tem. Lula, Dilma, os atletas, inclusive os que servem às Forças Armadas, que tiveram suas lutas por superação e nossas mulheres guerreiras com medalhas ou sem medalhas, mas que teem seus valores reconhecidos por todos aqueles que amam o esporte e defendem a dignidade humana. O Brasil se tornou referência no mundo, fato que só passou a ser realidade - apesar e a contragosto dos reacionários, desumanos com complexo de vira-latas - a partir do governo Lula, em 2003. Fez Justiça ao empenho concreto da presidenta Dilma Rousseff, enfim a todos os fizeram por merecer. Foi um lindo espetáculo. As Forças repressivas do Estado contiveram a violência urbana. Aqueles visitantes que quiseram manchar e apequenar o Brasil foram desmascaradas por uma Polícia altamente qualificada, preparada com seu setor de Inteligência. Foram denunciados ao vivo as forças repressivas do Estado reprimindo manifestantes nos estádios, mas no final o recado foi dado. FORA TEMER! FORA JUDAS! FORA USURPADOR! Uma beleza de texto, amigo Fernando Tolentino.
ResponderExcluirExcelente, Tolentino. Ficou a prova de que o apoio do estado - independente de que regime político-economico ele adote - é fundamental para o desenvolvimento dos esportes, bem como das artes. Os EUA, pátria do capitalismo, aufere medalhas em abundância em razão da participação efetiva das universidades na formação do atleta. O Brasil, no torneio em que teve o beneplácito militar, ganhou o seu maior número de medalhas, e, melhor, deixou um legado positivo para os próximos jogos.
ResponderExcluirGrande Tolentino! Justo reconhecimento, num belo texto em que as verdades são ditas sem máscaras e sem apologias ao mal. Apenas verdades, 'verdadeiras'!!! Parabéns, comoanheiro! Mariene.
ResponderExcluirGrande Tolentino! Justo reconhecimento, num belo texto em que as verdades são ditas sem máscaras e sem apologias ao mal. Apenas verdades, 'verdadeiras'!!! Parabéns, comoanheiro! Mariene.
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