No domingo, 31 de
julho, o Brasil assistiu manifestações contra e a favor do golpe em
praticamente todas as grandes cidades. O esperado era que o dia terminasse e viesse
a segunda-feira com os dois lados comemorando o sucesso das suas mobilizações.
Não foi esse o tema
dominante. O país se voltou para uma palavra: Puta.
O xingamento foi
dirigido à atriz Letícia Sabatella por manifestantes golpistas inconformados
com o direito de ir e vir de uma das mais notáveis atrizes brasileiras na
cidade em que foi criada a partir dos quatro anos e de onde saltou para o seu
admirável sucesso.
Em seus 25 de atividade
profissional, Letícia Sabatella estrelou mais de vinte novelas, séries e
minisséries, além de 15 filmes e documentários. É reverenciada como atriz,
cantora e diretora. Ou seja, tem tudo para ser motivo de orgulho dos
curitibanos, tanto quanto o é para os brasileiros.
Ontem, foi obrigada,
entre inúmeras outras agressões, a escutar Gustavo Abagge dizer e repetir “você
é puta”.
O bando de fascistas
apenas externava a frustração com a sua incapacidade de levar o povo para a rua,
como se deu em diversas outras cidades. Há um ano, milhares de pessoas vestiam
camisas da CBF para, segundo alegavam, protestar contra a corrupção. E, em nome
disso, pedir o afastamento da presidenta Dilma Rousseff. Nem se importavam se a
CBF era vista internacionalmente como corrupta e o seu presidente precisou
pagar fiança de US$ 15 milhões para não ser preso nos Estados Unidos.
Um ano depois, Dilma
está provisoriamente afastada da Presidência, mas ainda assim os golpistas não
conseguem sensibilizar os seus antigos seguidores. No final de 2015, as
mobilizações já se esvaziavam e os seus líderes políticos eram expulsos por manifestantes
revoltados ao identificar que lhes cabia perfeitamente a condição de corruptos
que lançavam sobre os adversários.
Ao mesmo tempo em que
se substituía, ainda que provisoriamente, a presidenta eleita, mostrava-se
impossível manter a verdade submersa. O ministério nomeado por Michel Temer
revelou-se um covil de malfeitores, vários indiciados em processos de
corrupção. A mesma coisa, a sua base no Congresso Nacional, com destaque para o
campeão Eduardo Cunha, que Temer não consegue controlar.
O mal se repete na base
de sustentação do golpe. Dias depois de iniciada a interinidade de Temer,
revela-se que Laodse de Abreu Duarte, diretor da Fiesp, uma das entidades que
bancou o movimento pelo “impeachment”, é o maior devedor da União, com nada
menos de 6,9 bilhões. Com a repercussão, foi obrigado a renunciar ao cargo.
Quer dizer, os amarelos
tinham argumentos, falsos ou não, para arrastar simpatizantes e encher as suas
manifestações. O que lhes restou para dizer? Puta!
Como bem assinalou
Nathalí Macedo em seu artigo “Puta” é o
xingamento padrão dos fascistas, “quando um homem não sabe como lidar com qualquer desconforto que lhe é
causado por uma mulher, ele a chama de puta.”
O xingamento reforça essa
misoginia que está na base do movimento, a mesma que levou Temer a nomear um
grupo de ministros em que não havia uma só mulher. Mas, se fosse um homem e não
Leticia Sabatella, seria chamado de filho da puta. Afinal, os machistas agridem
sempre o lado feminino de seus adversários.
Homem ou mulher, seria
inapelavelmente xingado por conta do desespero diante de evidente incapacidade
de esgrimir argumentos, mas também porque Gustavo Abagge é covarde, assim como Eder Borges é
covarde, Telma Nodari Vidal é covarde.
Corajosa é Letícia
Sabatella. Não precisou de um bando de pessoas à sua volta para tentar iniciar
um diálogo racional, supondo que isso seria possível com aquela gente. Para um
enfrentamento, que ela supunha poder ser honesto e inteligente.
Não tinha como saber
diante de quem estava. Eder Borges, dirigente do MBL, usou hoje o seu perfil de
Facebook para alegar que não xingou
ou agrediu a atriz e apenas tentou dialogar. A julgar pelo que consta nos
registros da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Canguçu, é realmente
prudente esquivar-se de qualquer complicação maior.
Problemas judiciais
parecem ser uma constante entre os agressores de Letícia Sabatella. Isso se
repete com a raivosa Telma Nodari Vidal e, principalmente, com Gustavo Abagge,
que bem podia saldar o seu compromisso com a União.
No caso dele, havia
mais. Parece que ali estava para cumprir um dever de gratidão com o juiz Sérgio
Moro. Como lembrou Bob Fernandes, ele é filho de Nicolau Elias Abagge,
presidente do Banestado em 1998. O desfalque bilionário do banco foi tão grande
que rendeu uma edição extra da Carta Capital, por ele assinada, em que o
jornalista definiu o caso como “a maior lavagem de dinheiro do mundo”.
A pena
sugerida para o pai de Gustavo foi de dez anos de prisão. Mas o processo foi
simplesmente arquivado pelo juiz Sérgio Moro e ninguém foi preso.
Não lhes parece que,
não bastasse a agressão a Letícia Sabatella, ele foi inconveniente com a
escolha do xingamento?
Fernando Tolentino
* Retirei do artigo, por sua solicitação, o nome de Flávia Cristina Costa
Pivatto, que procurou o Blog de Tolentino para
desmentir a sua participação no evento, assegurando inclusive que não estava em
Curitiba e não é a pessoa que aparece na foto. Como a informação foi obtida por
via indireta, considerei prejudicado o título original (O “LINCHAMENTO” PELO FILHO
DE NICOLAU ABAGGE E PELA BELLE DE JOUR) e o penúltimo parágrafo em que arrolei
o dados coletados sobre ela.
ESSA NÃO SOU EU.ESTÃO ME CULPANDO POR ALGO QUE EU NÃO FIZ.
ResponderExcluirTenho provas de que estava em SP, PROVAS PALPÁVEIS QUE ESTSVA EM SP E DO PRÓPRIO FACEBOOK.MESMO PORQUE ELE DÁ A TUA LOCALIZAÇÃO. Odeio mentiras.
E expor uma pessoa , irresponsável dessa forma sem se certificar, que é mentira é passivel de processo por CALÚNIA, e DIFAMAÇÃO.
FAVOR DELETAR MEU NOME.
Estão me confundindo com essa.Deve ter uns 15 anos a menos do que eu, e uns 20 quilos a menos....
Internet é um espaço público. Todos precisam entender que não podem caluniar, inventar, difamar e injuriar ninguém. Precisamos acabar com essa cultura de impunidade na internet.
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