Ainda sob o impacto do
acidente que vitimou Eduardo Campos, antes mesmo que ele fosse sepultado, o
Instituto Datafolha realizou uma pesquisa eleitoral incluindo o nome de Marina
Silva como candidata à Presidência.
Deixem pra lá a
ilegalidade de citar, no afã de alavancar Marina, um nome não registrado. O
importante era aproveitar toda a emoção daquele momento e, principalmente,
antecipar-se à decisão do PSB sobre quem substituiria Campos na disputa.
Agora, o que temos
sobre a mesa é o resultado da sondagem de opinião.
Dilma continua na
liderança (36%). Aécio e Marina estão em empate técnico, com diferença e de 1%
em favor dela.
Sinto-me obrigado a
retornar ao início de outubro de 2013, quando escrevi sobre a filiação de Marina
no PSB. Quase escrevia o ingresso, o
que não seria justo, pois ele foi suficientemente franca para advertir que não
permaneceria ali a partir do momento em que a Justiça Eleitoral reconhecesse o
registro da Rede.
Ali, eu avaliava que
Marina atirou em Dilma, mas acertou em Aécio (“se vítima presumível há, ela atende pelo nome
de Aécio”). Mesmo não
sendo possível antever os meios pelos quais isso seria atingido, a verdade é
que o candidato mineiro começou a murchar, está às vésperas de sumir. Tudo
indica que os próximos levantamentos vão flagrar uma migração para Marina de
votos tucanos, no que seria uma quase antecipação do segundo turno. A verdade é
que o PSDB só não vai junto com Aécio caso se renda ao inarredável sonho de
José Serra e resolva substituir o candidato.
Esse é um quadro que
faz calar os energúmenos que se apressaram a espalhar insinuações de que o
acidente pudesse ter sido armado em favor de Dilma Rousseff. Como chegou a
fazer a candidata tucana Dani Schwery, de São Paulo. Só uma supina imbecilidade
para aventar a hipótese de que não fosse um mero acidente. Mas, se interesses
houvesse, jamais seriam da candidata do PT. Porque iria “inventar” uma candidatura
mais forte que as existentes no tabuleiro? Interessados na troca de nomes do
PSB àquela altura só mesmo Marina, Serra e seus apoiadores sinceros ou
circunstanciais.
Enfim, surgiu uma concorrente
real para Dilma. E, diga-se de passagem, muito mais confiável aos inimigos da
continuidade do projeto petista. Aécio deixou claro que não tem musculatura
para o enfrentamento. Além disso, as tempestades das denúncias toldam o
horizonte de sua campanha. Eduardo Campos, por mais que tenha tentado, não tem
a mesma capacidade de Marina para “um enfrentamento agressivo, figadal”, como
defini em outubro. Afinal, Campos não foi colocado nessa disputa com o PT por qualquer
forma de ressentimento. E todos sabem como o ódio é capaz de mover montanhas. Ao
contrário, por todo o período em que figurou como candidato, o ex-governador de
Pernambuco foi tratado com respeito e consideração por Dilma e destacado por
Lula como amigo pessoal. Não podia ser diferente. O PSB acompanhou as
candidaturas de Lula em 1989, 1994 e 1998. Apoiou Dilma em 2010. Em 2006, Lula
não teve o PSB na coligação, mas fez campanha com dois palanques em Pernambuco,
um deles o de Eduardo Campos.
Importa neste momento antecipar os cenários de um segundo
turno previsível (ao menos a crer na fidedignidade da Datafolha), até porque
isso pode evidenciar o perfil da nova candidatura de Marina, que ainda parece encantar
alguns eleitores do campo progressista. Preferem sublinhar o seu passado e
avaliar que faria um governo capaz de herdar compromissos de seu tempo de
petista.
O método de avaliação é simples, mas entendo que não
dá muito lugar a dúvidas.
Imagine um primeiro turno com três polos principais.
Dilma, Marina e PSDB (Aécio ou seu substituto).
Caso Dilma vá à disputa final contra Marina, com
quem você acha que ficarão os tucanos? Não precisa responder. O Datafolha já fez
isso pra você. Veja a transparência quase automática dos votos de Aécio para
compor a soma de Marina no segundo turno. Mas vale a pena você refletir sobre
uma questão: que compromissos Marina aceitaria assumir com o PSDB para ter esse
apoio. Para não ir muito longe, veja como estão os acertos entre tucanos e PSB
em importantes disputas estaduais, como São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e
Paraná, para citar só algumas. Alguma proximidade do PSB com o PT só pode ser
identificada no Rio de Janeiro. E vai exigir muito jogo de cintura de Lindbergh
para que se fragilize com o novo quadro eleitoral.
Vamos à segunda hipótese: Dilma e PSDB (Aécio ou
não) no segundo turno. Passa na sua cabeça que Marina suba no palanque de
Dilma? Ou seria abduzida pelos tucanos?
A resposta é de quem fizer a reflexão que proponho.
Se podemos identificar o conjunto que ora dá
sustentação à campanha de Aécio como campo conservador (direita ou neoliberal,
como outros preferirão chamar) e temos a candidatura de Dilma ao menos como centro-esquerda,
a previsão de opção de Marina entre esses dois polos vai inquestionavelmente definir
o campo em que ela se situa.
Façam suas apostas.
Fernando
Tolentino
Nenhum comentário:
Postar um comentário