É este
sonho que me traz até aqui. Foi este sonho que me fez militante, que me jogou
na luta e se fez sentido de minha vida.
Este
sonho fez o sentido da vida de milhares de brasileiros que estavam comigo
nas ruas de Salvador, de jovens que caminhavam juntos em centenas de ruas de
cidades brasileiras.
Quando
pisava o chão daquelas ruas, elas eram também a estrada para a construção do
sonho não só de gente próxima de mim, mas também de gente distante, de quem a história de luta
nos embalava. Como Luís Travassos, José Carlos Matta Machado, Jean Marc,
Wladimir Palmeiras, José Dirceu e tantos outros.
Faz
exatamente uma semana que conversei sobre esse sonho com o jovem João Paulo.
Ele falava do sonho que vara gerações. O sonho que embriagou essa turma de
jovens que se mantinha acampada desde a prisão de José Dirceu, José Genoíno,
Delúbio Soares, em 15 de novembro do ano passado.
Falamos
sobre o significado simbólico do que eles estavam fazendo há quatro meses. Não
apenas para os companheiros presos, para que não se sentissem isolados,
abandonados. Como nos mandou dizer hoje Miruna, filha de José Genoíno, e nos falou Joana, a filha de José Dirceu, revelando passar na Trincheira da Resistência às quartas-feiras para ali ganhar forças para visitar o paí.
Não só a importância do gesto, para deixar claro aos ministros do
STF, à grande mídia, que não temos do que nos envergonharmos dos companheiros
presos. Ao contrário, o que nos causou asco foi a evidência de que a democracia parecia
não ter atravessado a Praça dos Três Poderes, de como era possível tramar para
que um processo (e só esse processo, como se outros não houvesse) levasse o
Partido dos Trabalhadores ao holocausto moral.
Fizeram
mais aqueles companheiros que, na prática, como que se declararam
espontaneamente prisioneiros para evidenciarem a solidariedade aos condenados
do PT. Conseguiram transmitir à sociedade brasileira aquilo que berravam aos
ouvidos dos magistrados. Por isso eles foram fundamentais para estimular a
militância petista e as pessoas ávidas por Justiça nas vaquinhas que permitiram
o pagamento das multas dos companheiros.
Falamos, eu e João
Paulo, sobre a importância disso para a juventude. O gesto deles, como
nenhum outro, ecoou onde estavam jovens obstinados por Justiça em qualquer
lugar do Brasil. E é preciso que estejam conscientes disso todos os que permaneceram todo esse tempo acampados. A tal ponto que passaram por ali militantes mineiros, goianos,
cariocas, paraenses.
E João
Paulo, falando do que a nossa geração significou de referência para deles,
perguntava: “E os que virão depois de nós?”
Esse é o
verdadeiro sonho, João Paulo. Um sonho que os conservadores não conseguem
entender, que chega a ser criminalizado como se deu até nas palavras vãs de um membro
da mais alta Corte.
Junto a
referências como Genoíno, Dirceu e tantos mártires da luta por liberdade, os
que virão depois de nós terão exemplos como o seu.
Obrigado,
João Paulo.
Fernando Tolentino
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