Foram uns 500 em São Paulo, não passou de 150 no Rio, de 50 em Belo Horizonte, mais 40 em Curitiba, 20 no Recife, 20 em Belém, 9 em Natal, 4 em Brasília e 3 em Florianópolis!
Contabilizadas,
796 pessoas saíram sábado de suas casas para propor um golpe de estado e a
volta do regime militar... Vá lá que
houvesse mais uns gatos pingados por aí: total de 900 manifestantes.
Motivo
para milhares de postagens jocosas em redes sociais, outros tantos
comentários avaliando as passeatas, alguns artigos de observadores políticos.
A
verdade é que, se as manifestações de 22 de março deixaram envergonhados os seus organizadores e
participantes, esse redondo fiasco representou, sim, um alívio para os milhões
de brasileiros que não aceitam qualquer recuo nas conquistas democráticas.
Os
golpistas não lograram encher as ruas, como há 50 anos, nas vésperas do golpe militar
de 1º de abril, nem mesmo apropriando-se fraudulentamente do apoio de Deus e da
bandeira da defesa da Família. Mas a verdade é que vinham agitando competentemente
as redes sociais e ganharam razoável repercussão na mídia.
Não
fomos poucos os que superestimamos a sua capacidade de aglutinação e,
convenhamos, estávamos morrendo de medo de um eventual sucesso desse movimento
de fanáticos. E sabemos muito bem porque receávamos que aquilo fosse um
repeteco das marchas do Padre Peyton.
Primeiro,
porque muitos de nós experimentamos na carne ou na alma (ou em ambas) as consequências das
manifestações de 1964. E quem viveu aquela época lembra que elas representavam um
expressivo contingente da sociedade, ainda que as pesquisas recentemente
reveladas pelo Ibope mostrem que o governo Goulart tinha apoio da ampla maioria
da população.
Aí
está o outro motivo para o quase pânico dos democratas. A verdade é que, sendo
minoritários, os golpistas de 64 conseguiram pôr a democracia para correr e
submeter o País por inacabáveis 20 anos.
De
resto, vale lembrar que, se foram (quase) tão espontâneas com as manifestações
de junho de 2013, as marchas reacionárias de 50 anos atrás não tiveram uma
complexa organização visível que justificasse o número de participantes. E não
tínhamos clareza de como poderia ser o efeito internet na convocação feita pelos
novos golpistas.
Por
fim, temíamos que, tendo uma participação significativa, as passeatas do dia 22
pudessem agregar setores desorganizados da sociedade, que buscam oportunidade
de expor a revolta e a insatisfação, como punks,
usuários de craque, moradores de rua, entre outros. Grupos que ajudaram a dar
volume (e agressividade) aos eventos do ano passado. A consequência previsível seria a animação de golpistas que não estavam nas ruas, mas espreitando por trás dos muros, ansiosos pela chance de passar a mão no poder.
Que
nada! Deveríamos agradecer aos organizadores dessas frustradas manifestações
pela oportunidade de o Brasil ter feito a sua grande revelação. Não só os governistas,
a esquerda, militantes progressistas de partidos ou movimentos sociais,
beneficiários mais conscientizados de programas sociais têm horror a qualquer coisa
que possa lembrar a ditadura. Se não este, é muito próximo disso o sentimento latente na quase unanimidade da oposição brasileira, mesmo segmentos conservadores dessa
oposição.
Este
foi o recado para os poucos verdadeiros golpistas. Não tenho a menor dúvida que
isso foi entendido pelos revoltosos do Clube Militar. Esse sentimento
derramou-se pela oficialidade militar e já não considero possível que alguém nesse
meio veja restrições democráticas como uma possibilidade a ser aventada.
O Brasil e sua democracia nasceram revigorados na manhã seguinte à movimentação dos paspalhos das marchas do dia 22 de março.
Então,
vamos combinar. Teremos uma disputa democrática pelo poder neste ano. E quem quiser
ser alternativa de poder que se prepare, pois terá de enfrentar as urnas.
Fernando Tolentino
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