Já não há o que
esconder.
A primeira reunião do
que foi o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, serviu para deixar
claro para os brasileiros que o social
já não lhe cabe.
Afinal, o que foi o
golpe senão a manifestação pública de que os donos do PIB brasileiro, embora inicialmente admitindo a política
de conciliação de classes proposta no primeiro governo Lula, isso nunca representou
uma adesão entusiástica ao projeto. Tratava-se exclusivamente de aproveitar a
maré, retomar os resultados positivos no momento em que nem mesmos os eternos
beneficiários do modelo econômico suportavam mais a paralisia resultante dos
dois governos de Fernando Henrique Cardoso.
Bastou a crise
econômica mundial apontar no horizonte, trazendo os primeiros efeitos para o
Brasil, declararam escancarado o recrudescimento da luta de classes e apontaram
os aríetes para os programas e propostas que buscavam compensar (ou aliviar) os
prejuízos seculares da maioria dos brasileiros.
Falhou o modelo Macri de afastamento de governos
com compromissos sociais e solidariedade internacional com os que os propunham.
Os eleitores brasileiros até chegaram a ter vacilações no curso da campanha de
2014. Mas despertaram no segundo turno e empurraram para fora do tabuleiro a
candidatura reacionária de Aécio Neves.
Como as classes dominantes
do Brasil não aceitam derrotas e têm a clara convicção de que o Estado existe
para lhe servir, foi adotada a saída testada com sucesso contra os paraguaios. Decidiram
simplesmente anular o processo eleitoral e retomar o comando.
Claro que tais intenções
não foram reveladas às massas uniformizadas com a camisa da corrupta CBF e do também
amarelo pato da não menos censurável Fiesp.
A Ponte para o Futuro, desenhada no momento de combinar o golpe, só
foi surgindo nas conversas públicas dos vitoriosos após o afastamento de Dilma
Rousseff, evidentemente sem uma tradução que pudesse jogar nas ruas as massas justamente
enfurecidas.
Aqui e ali, parcelas
consideráveis da população foram traduzindo as medidas: o conteúdo da reforma
previdenciária, o significado das alterações na legislação trabalhista, o
arrocho para os servidores públicos, o desmantelamento do Estado. Para poucos
mais ilustrados, a entrega do patrimônio nacional, mais evidenciada no atentado
contra o Pré-Sal e a Petrobras.
Quem percebeu mais
rapidamente tratou de se mobilizar e isso foi mais claro para a juventude,
vendo ir pro brejo a perspectiva de um ensino de qualidade na escola pública. A
resultante foi esse maravilhoso movimento de ocupação de mais de mil
estabelecimentos de ensino, em grandes e médias cidades.
A declaração de guerra
veio com a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no qual
foi estrategicamente podada a representação dos trabalhadores, ganhando foro de
uma grande articulação dos interesses do grande empresariado.
A institucionalização
de um imenso lobby. Pra não perder a
chance da piada, um lobão... Epa! O
conceito caiu como uma luva, né?
A substanciosa síntese
veio na palavra do publicitário Nizan Guanaes:
“Já que o governo ainda não tem índices
de popularidade altos, aproveite, presidente. A popularidade é uma jaula.
Ninguém faz coisas contundentes com altos níveis de popularidade. Então,
aproveite que o senhor ainda não tem altos índices de popularidade e faça
coisas impopulares que serão necessárias e que vão desenhar este governo para
os próximos anos. Aproveite sua impopularidade. Tome medidas amargas. Aliás,
este é o grande desafio das democracias do mundo. Como fazer coisas
impopulares?”
Esperto, Guanaes disse
o que Temer queria ouvir. E por isso foi retribuído com aplausos inflamados. A
impopularidade com que os brasileiros o premiaram não deve ser vista
necessariamente como um aspecto negativo.
Em outras palavras, se
não serve para embalar a vaidade do medíocre político que jamais ganharia uma eleição
majoritária (aliás, já era preciso sofrer muito para alcançar mandatos empurrado
pela máquina partidária), isso pode ser lido como um capital decisivo. Se dito
por alguém mais escrachado: “Presidente,
lembre-se de que já não tem nada a perder.”
O que não disse Guanaes
é a quem realmente interessa o capital da impopularidade. Interessa aos
detentores do capital. Oportunistas, querem se refastelar até com o fato de
termos um presidente rejeitado por no mínimo 7 em cada 10 brasileiros e a
caminho da execração pelos que ainda não entenderam o que significam coisas impopulares, medidas amargas.
E têm pressa! Não
porque haja o menor risco de Temer ganhar qualquer migalha de aceitação
popular, ainda mais sendo identificado com esse lúgubre receituário. Mas por
pretenderem deixar essa herança com ele, tentando chegar em 2018 com alguma
candidatura que, mais uma vez, não precise levar a verdade ao palanque. Sem ser
identificado pelo crime de entrega dos recursos nacionais. Sem ser
responsabilizado pelo esmagamento das grandes massas de trabalhadores,
aposentados, estudantes do que sobrar de escolas públicas, pequenos empresários
e produtores.
Fernando Tolentino
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