sábado, 22 de outubro de 2016

CONCLUSÃO DA SEMANA: É MELHOR NÃO BATER EM LULA



Fechamos a semana com quatro fatos importantes e interligados: o anúncio da prisão de Lula, a prisão de Eduardo Cunha, a ocupação das instituições de ensino pelos estudantes e a divulgação de novas pesquisas de intenção de votos para presidente da República,
Uma semana atrás, na sexta-feira, 14, o Blog da Cidadania noticiava a possível prisão de Lula para a segunda-feira seguinte por ordem dos titulares da República de Curitiba.
A notícia incendiou as redes sociais e diferentes grupos trataram de se articular para enfrentar a maldita ordem de prisão, há muito soprada aos quatro ventos, mas sem nenhuma motivação razoável.
O MST gaúcho anunciou uma marcha para a capital paranaense e militantes trataram de cercar a residência de Lula, aquele apartamento em São Bernardo onde vive com a família desde muito antes de se tornar presidente da República, em 2003.
Uma semana depois, não houve a prisão. No momento em que a notícia deu chabu, não faltou quem investisse contra o blogueiro Eduardo Guimarães, sugerindo que armara um escândalo em torno de uma notícia considerada falsa, uma invenção, alguns até lhe atribuindo intenções menos dignas, como a tentativa de atrair atenções para si, além de questionar a sua credibilidade.
Injustiça! O que fez a notícia se espalhar foi justamente a credibilidade do blog e de seu autor, que merece crédito do próprio Lula. Afinal, entre outras informações que habitualmente divulga, acertou no alvo em fevereiro, quando os justiceiros togados já tentavam acertar em Lula.
De posse da informação, nada mais natural que ela fosse levada a público. Essa tática, por sinal, foi várias acionada no tempo da ditadura. Se era vazada uma informação de que um preso político sofreria agressão mais insuportável, buscava-se denunciar publicamente. No mínimo, uma criança teve a vida salva em Brasília depois de descoberto e divulgado que seria sacrificada no útero na mãe presidiária.
Ninguém é capaz de assegurar de que não houvesse a intenção de se promover a prisão de Lula, o que eventualmente pode ter sido abortado pela divulgação prévia e sua rápida repercussão.
Certo é que, ao anunciar que a prisão poderia ocorrer, Eduardo fez a ressalva de que o fato lhe fora comunicado por uma fonte reservada e que havia uma margem de incerteza.
Na quarta-feira, 19, Eduardo Cunha – e não Lula – é que estaria preso. Uma prisão esperada por qualquer brasileiro que não tenha sofrido uma longa letargia ao longo deste ano.
Na sua prisão, Cunha foi tratado com pompa e circunstância, cerimoniosamente, como não ocorreu com qualquer dos presos desde que a Lava Jato foi instaurada ou mesmo na prisão de investigados por outras operações da Polícia Federal nos últimos anos. Nada de policiais trajados com uniformes de combate, ostentando fuzis e algemas, tudo informado à mídia com antecedência suficiente para que pudesse chegar ao local da operação em tempo de armar e posicionar as câmeras.
Fato estranho? Mesmo sendo uma prisão tão aguardada, uma notícia de repercussão internacional, não fiquei sabendo de um único órgão de imprensa que tenha protestado por não ser avisado previamente, como nas conduções de rigorosamente todos os outros suspeitos.
Não falta quem suponha que a prisão de Cunha seja um estratagema para que os condutores da Lava Jato não possam ser acusados de parciais ao determinarem a de Lula.
De minha parte, não estou seguro de que Lula sequer seja preso, salvo após uma eventual condenação, mesmo assim em instância superior. Afinal, não falta colaboração no provimento de informações para o processo, sejam insistentes as garantias públicas de não haver hipótese de fuga e não se identifique qualquer outra justificativa para que seja feita. Não há sequer a expectativa de que viesse a fazer uma delação premiada.
Mas, ainda na defesa de Eduardo Guimarães (e pergunto a quem serve desacreditar um blogueiro que bons serviços vem prestando aos setores progressistas), levanto a hipótese de que o seu informante pode ter confundido os fatos. Sabendo da iminência de uma grande operação da Polícia Federal, tenha suposto ser a prisão de Lula e dito isso ao responsável pelo Blog da Cidadania.
E qual a ligação disso com os dois outros fatos que citei?
Tanto um como outro pode ter dissuadido o juiz Moro de manter, ao menos por enquanto, a decisão de humilhar Lula com um processo de prisão.
Embora os estudantes estejam mobilizados por outras questões (a condenação da PEC 241 e da reforma dos currículos de cursos de nível médio), o Fora Temer é o grito comum nas suas já mais de 1.000 ocupações de escolas. Uma violência contra Lula poderia ser um combustível para fazer essas manifestações pegarem fogo.
Ao lado disso, não é para se negligenciar a surpreendente notícia de que as insistentes agressões da mídia ao ex-presidente parecem lhe premiar com cada vez mais admiradores. Em sondagens de dois diferentes institutos, Lula continua liderando a corrida presidencial, inclusive ampliando a vantagem sobre os adversários de vários cenários de primeiro turno e reduzindo a diferença em possíveis confrontos de segundo turno. Isso sem que tenha acesso a um mísero segundo de TV ou presença em jornais que não sejam para ser linchado em pautas cada vez mais grosseiras.
Não escapa para nós e é evidente para os seus inimigos: a opinião pública não casa a figura de Lula com a do PT, ao menos para desacreditá-las. O Partido saiu visivelmente enfraquecido das eleições municipais e isso principalmente por conta da guerra de comunicação de que foi vítima nos últimos anos. Com Lula, é o contrário, tudo indica que as agressões da mídia alimentem um sentimento crescente de solidariedade generalizada nos seus admiradores. Tudo o que os seus inimigos preferem não ver pela frente.
Fernando Tolentino

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