Fechamos a semana com
quatro fatos importantes e interligados: o anúncio da prisão de Lula, a prisão
de Eduardo Cunha, a ocupação das instituições de ensino pelos estudantes e a
divulgação de novas pesquisas de intenção de votos para presidente da República,
Uma semana atrás, na sexta-feira,
14, o Blog da Cidadania noticiava a
possível prisão de Lula para a segunda-feira seguinte por ordem dos titulares
da República de Curitiba.
A notícia incendiou as
redes sociais e diferentes grupos trataram de se articular para enfrentar a
maldita ordem de prisão, há muito soprada aos quatro ventos, mas sem nenhuma
motivação razoável.
O MST gaúcho anunciou
uma marcha para a capital paranaense e militantes trataram de cercar a
residência de Lula, aquele apartamento em São Bernardo onde vive com a família
desde muito antes de se tornar presidente da República, em 2003.
Uma semana depois, não
houve a prisão. No momento em que a notícia deu chabu, não faltou quem
investisse contra o blogueiro Eduardo Guimarães, sugerindo que armara um
escândalo em torno de uma notícia considerada falsa, uma invenção, alguns até lhe
atribuindo intenções menos dignas, como a tentativa de atrair atenções para si,
além de questionar a sua credibilidade.
Injustiça! O que fez a notícia se espalhar foi justamente a credibilidade do blog e de seu autor, que
merece crédito do próprio Lula. Afinal, entre outras informações que
habitualmente divulga, acertou no alvo em fevereiro, quando os justiceiros
togados já tentavam acertar em Lula.
De posse da informação,
nada mais natural que ela fosse levada a público. Essa tática, por sinal, foi
várias acionada no tempo da ditadura. Se era vazada uma informação de que um preso
político sofreria agressão mais insuportável, buscava-se denunciar publicamente.
No mínimo, uma criança teve a vida salva em Brasília depois de descoberto e
divulgado que seria sacrificada no útero na mãe presidiária.
Ninguém é capaz de
assegurar de que não houvesse a intenção de se promover a prisão de Lula, o que
eventualmente pode ter sido abortado pela divulgação prévia e sua rápida
repercussão.
Certo é que, ao
anunciar que a prisão poderia ocorrer, Eduardo fez a ressalva de que o fato lhe
fora comunicado por uma fonte reservada e que havia uma margem de incerteza.
Na quarta-feira, 19, Eduardo
Cunha – e não Lula – é que estaria preso. Uma prisão esperada por qualquer
brasileiro que não tenha sofrido uma longa letargia ao longo deste ano.
Na sua prisão, Cunha foi
tratado com pompa e circunstância, cerimoniosamente, como não ocorreu com qualquer
dos presos desde que a Lava Jato foi instaurada ou mesmo na prisão de
investigados por outras operações da Polícia Federal nos últimos anos. Nada de
policiais trajados com uniformes de combate, ostentando fuzis e algemas, tudo
informado à mídia com antecedência suficiente para que pudesse chegar ao local
da operação em tempo de armar e posicionar as câmeras.
Fato estranho? Mesmo
sendo uma prisão tão aguardada, uma notícia de repercussão internacional, não
fiquei sabendo de um único órgão de imprensa que tenha protestado por não ser
avisado previamente, como nas conduções de rigorosamente todos os outros
suspeitos.
Não falta quem suponha
que a prisão de Cunha seja um estratagema para que os condutores da Lava Jato
não possam ser acusados de parciais ao determinarem a de Lula.
De minha parte, não
estou seguro de que Lula sequer seja preso, salvo após uma eventual condenação,
mesmo assim em instância superior. Afinal, não falta colaboração no provimento
de informações para o processo, sejam insistentes as garantias públicas de não
haver hipótese de fuga e não se identifique qualquer outra justificativa para que seja
feita. Não há sequer a expectativa de que viesse a fazer uma delação premiada.
Mas, ainda na defesa de
Eduardo Guimarães (e pergunto a quem serve desacreditar um blogueiro que bons
serviços vem prestando aos setores progressistas), levanto a hipótese de que o
seu informante pode ter confundido os fatos. Sabendo da iminência de uma grande
operação da Polícia Federal,
tenha suposto ser a prisão de Lula e dito isso ao responsável pelo Blog da Cidadania.
E qual a ligação disso
com os dois outros fatos que citei?
Tanto um como outro
pode ter dissuadido o juiz Moro de manter, ao menos por enquanto, a decisão de
humilhar Lula com um processo de prisão.
Embora os estudantes estejam
mobilizados por outras questões (a condenação da PEC 241 e da reforma dos
currículos de cursos de nível médio), o Fora
Temer é o grito comum nas suas já mais de 1.000 ocupações de escolas. Uma
violência contra Lula poderia ser um combustível para fazer essas manifestações
pegarem fogo.
Ao lado disso, não é
para se negligenciar a surpreendente notícia de que as insistentes agressões da
mídia ao ex-presidente parecem lhe premiar com cada vez mais admiradores. Em
sondagens de dois diferentes institutos, Lula continua liderando a corrida presidencial,
inclusive ampliando a vantagem sobre os adversários de vários cenários de
primeiro turno e reduzindo a diferença em possíveis confrontos de segundo turno.
Isso sem que tenha acesso a um mísero segundo de TV ou presença em jornais que
não sejam para ser linchado em pautas cada vez mais grosseiras.
Não escapa para nós e é
evidente para os seus inimigos: a opinião pública não casa a figura de Lula com
a do PT, ao menos para desacreditá-las. O Partido saiu visivelmente enfraquecido das eleições municipais e
isso principalmente por conta da guerra de comunicação de que foi vítima nos
últimos anos. Com Lula, é o contrário, tudo indica que as agressões da mídia
alimentem um sentimento crescente de solidariedade generalizada nos seus
admiradores. Tudo o que os seus inimigos preferem não ver pela frente.
Fernando Tolentino
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