segunda-feira, 26 de setembro de 2016

NOSSA SOCIEDADE NÃO PODE SE NUTRIR DE ÓDIO



"Lindbergh escapou de ser assassinado ontem por um fanático de direita", escreveu Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, relatando episódio em que um casal, alucinado, investiu contra o senador e sua esposa na saída de um restaurante.
Além de revoltante, o episódio beirou o ridículo. O homem chegou a tirar a camisa exigindo que a discussão evoluísse para a "porrada". A mulher de Lindbergh foi jogada no chão.
O mais sério é que a cena não teve nada de inédito. Há poucos dias, foi o candidato a prefeito do Recife pelo PT, João Paulo, quem teve dificuldades para escapar de uma agressão. O economista Bruno D'Carli investiu contra ele também em um restaurante.
Constrangimentos ao menos próximos disso já experimentaram recentemente o ator José de Abreu e os ex-ministros Guido Mantega e Alexandre Padilha.
A coincidência é que as manifestações visam sempre os petistas e seus aliados.
Muitos dos leitores já devem ter passado por situações semelhantes. Eu cheguei a abandonar um grupo de familiares no Facebook ao ser escorraçado por uma prima que não se conformava com as minhas discordâncias.
Mas o ódio vai além disso.
Muitas vezes revela simplesmente a incapacidade de se conviver com contrários. Não raro, tem traços nítidos de luta de classes. Como nos casos de jovens de classe média brasilienses que atearam fogo e assassinaram o índio Galdino ao confundi-lo com um morador de rua. Ou na repetição de situações como esta nas ruas de São Paulo.
Não escapa dessa categoria a declaração do candidato a prefeito de Curitiba Rafael Grecca, que disse ter vomitado ao tentar pôr um pobre dentro de seu carro. Segundo ele, por não aguentar "cheiro de pobre". O que é cheiro de pobre? Até agora, eu não consegui descobrir.
Esse ódio de classe mobilizou multidões indignadas com os governos de Lula e Dilma, que lhes impunha a convivência com gente humilde em ambientes que julgava como privativos e até a perda de espaços para essas pessoas, como na política de cotas.
Mas é possível encontrar o ódio com a mesma intensidade entre torcedores de futebol, inclusive com a disposição para matar, como se viu torcedores do Sport do Recife fazerem com um chefe de torcida do Santa Cruz.
Diariamente, há exemplos de disputas de trânsito que provocam mortes ou mesmo agressões que poderiam levar a elas.
Alguém tem que dar um paradeiro nisso.
Tenho pelo menos a convicção (estamos em tempo de tê-las, não é verdade) de que a solução não virá de uma reforma do ensino que retire dos jovens os estudos de humanidades, reduzindo o ambiente escolar à mera formação profissional ou tecnicista.
Fernando Tolentino

Um comentário:

  1. Eu também já fui muito bombardeado pelos colegas de faculdade, tanto no grupo do watzap, e também em sala de aula mas, sempre defendi os governos Lula e Dilma.

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