Sete meses se passaram desde
a ridícula carta (7 de dezembro de 2015) que, traiçoeiramente, o
vice-presidente Michel Temer vazou para a imprensa a carta em que, melindrado,
parecia querer discutir a relação com a presidente Dilma Rousseff.
Temer reafirmaria o
lastimável traço de seu caráter quatro meses depois (11 de abril de 2015),
então vazando uma conversa de whatsapp,
na qual fala como se estivesse sendo empossado em novo governo, antecipando
posturas e oferecendo garantias. Que, aliás, não cumpriu. Como manter e
reforçar os programas sociais do governo de sua companheira de chapa de 2014.
Lembrei de quando meu
pai, membro da Academia de Letras da Bahia, recebia telefonemas em que candidatos
a integrar a entidade pediam votos para vagas que surgiriam com a morte de
titulares até então apenas adoentados.
O segundo vazamento de
Temer veio pouco menos de uma semana antes da votação da admissibilidade do afastamento
de Dilma pela Câmara, aquela fatídica sessão de 17 de abril que expôs o Brasil
ao escárnio universal. Não tinha como esconder a pretensão de convencer
deputados indecisos, anunciando um perfil que não tinha e nem viria a ter.
As suas atitudes de
homem vingativo, mesquinho, essas jorrariam assim que ele assumisse a vaga
que parece não perceber como interina.
O Palácio da Alvorada
foi praticamente cercado, sendo filtrados e identificados todos os seus visitantes.
Aberrantemente, chegaram a ser barrados o presidente e o vice-presidente do
Senado Federal. Foi cortado o próprio direito às compras de gêneros que
abastecem o Palácio da Alvorada. Não apenas para uso de Dilma, mas do pessoal
que serve no local. Embora ainda no cargo (apesar de afastada), também a
assessoria da presidente foi reduzida.
A mesquinharia não
ficaria nisso. Vale lembrar a frase atribuída ao velho cacique da política
baiana Antônio Carlos Magalhães, que pode ter levado a que ficasse conhecido
como Toninho Malvadeza: “A política vale pelo mal que se pode fazer.”
O episódio é lapidar, com
a mesquinharia sendo exercida de forma a alardear a capacidade pessoal de
exercer o mal. Apesar de Eduardo Cunha, mesmo afastado judicialmente da Presidência
da Câmara dos Deputados, continuar fazendo uso das aeronaves em seus
deslocamentos, foi determinado à FAB que não cedesse aviões a Dilma, salvo nos
deslocamento entre Brasília e Porto Alegre, sua cidade de origem.
A MILITÂNCIA
SE LEVANTA
Não iria ficar assim!
Duas amigas de Dilma,
amizades herdadas de histórias comuns no tempo da militância na resistência à
ditadura, das prisões e da tortura, resolveram se insurgir contra essa clara tentativa
de Temer de tentar impedir a presidente de atender aos inúmeros convites para
mobilizações em que possa denunciar o golpe contra o seu mandato.
Guiomar Lopes e
Celeste Martins expuseram o inconformismo a Dilma e resolveram tomar a
iniciativa de lançar o movimento “Jornadas pela democracia”, uma vaquinha (crowdfunding), com o objetivo de
arrecadar dinheiro para que a Dilma pudesse viajar pelo Brasil em defensa
contra o golpe.
Afinal, ao ser interpelada
contra a decisão de Temer, a Justiça decidiu que Dilma pode viajar em aviões da
FAB, mas tem que reembolsar o dinheiro utilizado.
Enfim, voltou a
mobilização da militância simpática ao PT, a Dilma ou simplesmente contra o
golpe em curso. Reedita-se iniciativa semelhante em que os condenados petistas
na AP 470 (“mensalão”) foram poupados
do pagamento das multas impostas judicialmente. José Genoíno, José Dirceu,
Delúbio Soares e João Paulo tiveram as multas custeadas a partir de grandes
campanhas de arrecadação.
Fica mais uma vez
provado que quem tem militância vai até o fim do mundo.
Bastaram dois dias para
que fosse suplantada a meta fixada de R$ 500 mil. Motivo para enorme emoção dos
que participaram e dos ainda propensos a contribuir. Tanto que
a campanha prossegue para que efetivamente se viabilize a sustentação de outros
custos da atividade de Dilma contra o golpe.
No fechamento dessa
matéria, com apenas três dias, haviam
sido arrecadados R$ 591.977, com a participação
de 8.887 pessoas.
O endereço para a
contribuição é https://www.catarse.me/pt/Dilma?ref=ctrse_thankyou.
Fernando Tolentino
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