Alguém
tem que fazer pedagogia. E só pode ser a esquerda, claro!
Não sou
advogado, mas acho que é hora de fazer isso.
Não
comemoro prisão de ninguém.
Comemoro
condenação. E se houver prova de responsabilidade pelo crime.
Se a prisão
é para averiguação ou para impedir que provas sejam destruídas, comemoro no
máximo o fato de que o processo vai andar, permitindo que se chegue à verdade
dos fatos. Quando muito, o de que a prisão impeça que novos crimes sejam
cometidos enquanto se apura se realmente o preso é responsável por eles.
É preciso
ficar claro, esse tipo de prisão não é punição. Daí, não é motivo para qualquer
comemoração, por mais que a gente “ache” que houve realmente um crime (ou
vários) e foi o preso que o cometeu ou os tenha cometido.
Ninguém
espere que a direita faça pedagogia.
O papel
da direita é confundir a opinião pública.
Isso
passa por transformar ação policial em espetáculo. Mais ou menos como
generalizar o entendimento de que punição é papel da polícia. Talvez pior, dar
a ideia de que alguém deve ser punido se parece óbvio que transgrediu a lei e
não importa quem está punindo, pois o importante é que o transgressor pague.
Enfim, a “justiça pelas próprias mãos”.
É um
conceito que cada vez mais corresponde ao senso comum. No entanto, pouca coisa põe
mais em risco os direitos do cidadão que a confusão entre esses papéis. Quem
pode decidir se você está ou não agindo de acordo com os direitos que tem e se
cabe ser punido e por quem. Enfim, onde estão o uso e o abuso de autoridade.
- Polícia
existe para impedir que ocorra um crime (ou delito) e para apurar se houve e de
quem terá sido a responsabilidade.
- O papel
do Ministério Público é identificar se deve haver punição e, com base na
existência ou não de provas, recomendar que a Justiça condene ou absolva o réu.
- Cabe
exclusivamente à Justiça definir se, existindo as provas, os fatos apurados
caracterizam realmente um crime e se o réu deve ser ou não condenado.
Isso se
chama ESTADO DE DIREITO.
Tudo
indica que venha por aí a prisão de Aécio Neves. Como já houve a da irmã dele
Andrea Neves, do primo Fred, do deputado Loures, do lobista Funaro e por aí
vai. Outras virão.
“Eles
merecem”. Essa conclusão é propagada diariamente por uma mídia direitista, que
se arvora a condição de policial, acusador e juiz.
Ao
difundir essa falsa visão, a mídia faz simplesmente demagogia. Entrega a
qualquer pessoa a convicção de que também ela pode concluir isso. Pode até ter
essa certeza. Se a tem, aplaude o policial atrabiliário, que espanca o
suspeito, substituindo todo o sistema judicial e praticando a punição que
entende adequada. “Para quê esperar a Justiça se ela não funciona ou atrasa
muito?” Não é?
O passo
seguinte é questionar: “Por que esperar a polícia?”
Chegou a
hora do linchamento, do grupo de extermínio, da execução sumária.
Mesmo
tendo claro a quem a Justiça tende a proteger em nossa sociedade, a esquerda
sabe perfeitamente quem são as vítimas imediatas dessa demolição do Estado de
Direito. E o povo minimamente consciente sabe também: preto, pobre, puta... e
petista. Como petista, leia-se o ativista de esquerda (atenção, companheiros de
outros partidos de esquerda que se sentem concorrentes).
E é
justamente por isso que não cabe à esquerda comemorar prisão temporária,
provisória, preventiva.
A
esquerda sabe quem controla a opinião pública no Brasil. É só fazer algumas
perguntas simples:
- Nos
processos alegadamente por corrupção, que está preso atualmente? São políticos,
empresários, lobistas? Como é o nome de cada um dos presos?
- Esses
presos estão condenados ou as prisões são temporárias?
- Dá pra
definir como temporária, sem que o processo avance para uma possível
condenação, uma prisão que já perdura por dois anos ou mais?
- O que
se pretende com prisões temporárias tão longas? São punições ou prisões para
contribuir com a apuração de fatos?
- Por que
alguém está preso enquanto a sua possível responsabilidade está sendo apurada e
outro não está?
E as que
talvez sejam mais esclarecedoras:
- Os
condenados estão presos?
- Ou
foram beneficiados por delações em que terão ou não dito verdades?
Quer ir
um pouco adiante?
- Os que
estão soltos por “colaborarem”, mesmo tendo cometido terríveis crimes, foram
sequer condenados?
Por isso,
não esqueçam: a defesa do estado de direito é indispensável para a esquerda.
Enfim, para quem não tem nas mãos os poderes de polícia, o aparato judicial e o
de levar à população o entendimento do que está realmente ocorrendo.
Afinal, podem
até prender Aécio, como prenderam outros (e até condenaram Eduardo Cunha), mas
não são esses os preferidos de quem tem hoje nas mãos o poder de dizer quem
merece ser preso no Brasil.
Fernando
Tolentino
Nenhum comentário:
Postar um comentário