Realmente, como se poderia
exigir dele que aceitasse com naturalidade, ainda não a apuração, mas sequer a
perspectiva de que isso venha a ocorrer?
Já não fosse o
aprendizado, com o exemplo e a orientação do avô de que, se são irrefutáveis as
provas, diga que são falsas, não ocorre ao moço qualquer precedente
significativo de apuração de irregularidades em que políticos a ele ligados
estivessem envolvidos. Cedo aprendeu com os correligionários paulistas que CPIs
foram instituídas para investigar adversários. Bom observador, viu que
Procurador Geral da República tinha o mesmo compromisso que as CPIs. Não seria
a Polícia Federal que fugiria a regra.
A mídia, no duplo governo
tucano de Fernando Henrique, limitou-se a ilustrar capas e manchetes isoladas
com fatos que seriam escândalos em quaisquer outros governos e jamais foram
além de alguns dias de repercussão. Só o necessário para confirmar a crença popular
de que “não vai dar em nada mesmo”. Isso no governo federal. Nos governos
estaduais do PSDB, nem pensar.
O rapaz viu sepultada uma
sucessão de casos que transformariam em meliante qualquer líder petista acaso
os sinais fossem trocados e os governos fossem liderados pelo PT. Como sempre,
de que importam as provas? Que sejam convenientemente esquecidas. Furnas, Banestado,
compra de votos para a reeleição, privatizações graciosas de estatais, a aquisição
das ambulâncias. Não houve caso que deixaria de virar fumaça ou sumisse na
portentosa gaveta do Senhor Procurador.
Ao ver o ministro José Eduardo Cardozo encaminhar à Polícia Federal provas contra
correligionários, o senador deve ter tomado um susto. De um lado, a reação
natural de oligarca: “Quem esse cara pensa que é? Ele não sabe de quem está
falando?” Quase deixaria escapar: “Ele por acaso está pensando que essas provas
atingem petistas?” De outro, a atitude racional, a constatação de que seria
indispensável impedir o início da apuração, lancetar o tumor antes de
intumescer a ponto de explodir pus para todos os lados. Para isso, a melhor
tática, aquela conhecida por qualquer torcedor de futebol: a melhor defesa é o
ataque. No melhor estilo recomendado pelo ídolo e avô. Jogada de risco. Nem o
tradicional agressor Álvaro Dias quis emprestar sua voz. Mas teria a seu favor
a repercussão na grande mídia, tanta que só assim apareceu, com exuberância, a
escabrosa história do “trensalão”.
Como o documento chegou
às mãos do ministro por meio
do deputado estadual Simão Pedro (PT), pressiona-se para obter de Cardozo nada mais
do que, como ele mesmo diz, prevaricação.
Diante de deputados e senadores, o ministro hoje
repetiu que tudo será apurado. Para isso, o País conta com uma Polícia Federal
profissionalizada e agora com total independência para efetuar suas
investigações.
Indícios há e são tão sérios que a Suíça está
fazendo todo o esforço possível para chegar à verdade. Inclusive apelando para
o apoio do governo brasileiro. Não se trata de alguém simplesmente batendo a
carteira de um transeunte distraído. O promotor Marcelo Milani diz que os trens
foram reformados a preços compatíveis com os de composições novas, em alguns
contratos não houve competição e o superfaturamento nos dez contratos apurados atingiu
R$
875 milhões. Para que se tenha um ideia, praticamente 16 vezes o valor do chamado "mensalão". O
processo se iniciou há 20 anos e perdurou em sucessivos governos tucanos de São
Paulo. Se a grande mídia acha pouco e resolve não dar destaque ao fato, até tornando-o menor que a suposta partidarização no envio das provas para apuração, é outro problema. O Brasil já se acostumou com isso.
A Polícia Federal é que simplesmente não poder deixar de
averiguar tudo o que de fato ocorreu e não interessa a que nomes chegará. Se forem
tucanos, caro Aécio, você só terá que lastimar ao concluir que, ao menos de um
lado da Praça dos Três Poderes, as coisas mudaram.
Fernando Tolentino
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