sábado, 12 de outubro de 2013

EM DEFESA DOS PROFESSORES



Ao se aproximar o dia 15 de outubro
Fernando Tolentino

O professor Carlos Motta foi assassinado no jardim de sua própria casa na madrugada de 20 de junho de 2008. O motivo foi revelado pelos executores durante o julgamento: Gilson Oliveira recrutara três jovens, entre eles um aluno e um ex-aluno do colégio que Motta dirigia (no Lago Oeste, zona rural de Brasília), para assassiná-lo simplesmente pra mostrar quem mandava ali. O professor havia advertido que não admitiria tráfico de drogas dentro da escola. Os três rapazes cumprem pena e o mandante ainda não foi julgado.
Por mais absurdo que possa parecer, o caso de Carlos Motta não foi isolado. É possível dizer que os professores estão entre as categorias profissionais mais atingidas pela violência no Brasil.
Ao contrário do que se deu com Carlos Motta, os autores quase sempre são os seus próprios alunos.
A professora de História Nádia de Souza Barbosa foi aposentada aos 56 anos após os médicos constatarem que ela não teria mais condições de entrar em uma sala de aula. Vítima também de violência cometida por um de seus alunos, ela relata ser comum, na escola em lecionava (Zona Sul do Rio de Janeiro), alunos lançarem urina nos professores.
Antonio Maria Cardoso da Silva teve que recorrer a atendimento hospitalar ao ser atingido na cabeça por um vaso de plantas arremessado por um aluno do 6º ano do ensino fundamental. A revolta decorrera de uma advertência por mau comportamento do aluno.
O sindicato da categoria informa que recebe, de seus representados, queixas de agressões físicas ou ao patrimônio pelo menos em um a cada três dias. A Apeoesp alega que os casos de violência crescem cerca de 20% por semestre em São Paulo.
Dados computados pelo MEC, juntamente com a Meritt Informação Educacional, registram 4.195 eventos de agressões no Brasil a professores de Língua Portuguesa e Matemática em 2011 considerados apenas os de 5º e 9º ano do ensino fundamental.
Embora haja motivações variadas nesses milhares de agressões, é possível supor que, de alguma forma, essa situação decorra da não aceitação, pelos alunos (e pelo tráfico, em casos como o de Motta), da relação de hierarquia com o docente.
Seria uma reação ao que visto como símbolo de poder, especialmente a disciplina e a dependência imposta aos alunos. Esses alunos buscariam contestar o que encaram como um domínio dos professores sobre eles ou até manifestariam nessa agressão a sua revolta com tudo o que se lhe afigura como representação do poder, no caso identificada nessa hierarquia.
É por isso que se mostra uma atitude inaceitável, inexplicável, de quase um suicídio simbólico, a recente decisão do sindicato de professores do Rio de Janeiro de reagir à absurda violência policial contra as suas manifestações com a celebração de uma espécie de aliança com a organização Black Bloc, conhecida pela prática de apropriar-se de atos de protesto para, mediante a destruição de patrimônio público e privado, não raro resvalando em vítimas humanas, demonstrar sua revolta política e social.
Com esse tipo de ação os Black Blocs têm conseguido atrair toda a sorte de pessoas insatisfeitas e sem organização e consciência política, muitos daqueles que já têm, isoladamente ou em bandos, a mesma prática cotidiana em grandes cidades, depredando telefones públicos e composições ferroviárias, por exemplo.
Os professores cariocas parecem ignorar que, passadas as manifestações por questões salariais (e é sempre bom lembrar que elas não são eternas!), essa multidão de revoltados inconscientes e desorganizados continuará motivada para jogar a sua revolta contra tudo que a ela se manifeste como poder, inclusive os próprios professores.

(Fernando Tolentino é pai e filho de professores e exerceu essa profissão até que, por razões políticas, foi impedido de continuar lecionando.)

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