Beto
Almeida
A gira da blogueira cubana Yoani Sanchez pelo
Brasil, tem se revelado, até o momento uma exitosa campanha de over exposição
midiática dela, uma frágil tentativa de distorcer a gigantesca função histórica
libertadora da Revolução Cubana e, também, numa fracassada operação da
diplomacia da desintegração. Trata-se de uma ação geopolítica da direita para
tentar impedir a crescente presença política de Cuba na América Latina e Caribe
por meio de vários projetos de cooperação, mas sobretudo, pela criação da CELAC
– Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, da qual Cuba é hoje
presidente. Para isto, foram derrotados, pelos povos da região, todos os
esforços da agressiva política dos EUA para isolar a ilha caribenha. Começo por
reivindicar 1% do espaço midiático dado a ela, para discutir este outro ponto
de vista.
Era previsível que a blogueira tivesse ampla
cobertura da mídia. Cobertura marcada pela repetição de uma única tese e, na
proporção inversa, pela negativa em informar sobre o que é exatamente a
realidade de Cuba, a começar pela informação de que Cuba exerce a presidência
da Celac. Isto, para um país que foi bloqueado, expulso da OEA, atacado
militarmente pelos EUA, impedido de ter acesso pleno ao sistema financeiro
internacional, representa, fundamentalmente, uma vitória de Cuba e da causa da
integração latino-americana e caribenha. Obviamente, representa um fracasso de
todos os países imperiais, de seus meios de comunicação e de personagens como
Yoani Sanches, que, observa que seu discurso é de absoluta sintonia com os
polos mais conservadores da sociedade brasileira, discurso que tem sido
derrotado. O discurso dela e da mídia brasileira que o exalta, é o discurso que
quer o fracasso da política externa brasileira de prioridade à integração com a
América Latina.
Biotecnologia:
avanço técnico-científico
Seria muito informativo e educativo para o povo
brasileiro se, na mesma proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado
espaço midiático aos cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco
mais de 50 anos de Revolucão, e sob bloqueio, conseguiu desenvolver uma
indústria de biotecnologia das mais avançadas do mundo, com medicamentos de
eficácia comprovada e sucesso internacional como o Óleo de Schostakovsky ( para
a gastrite), o complexo para combater diabetes, a vacina contra o câncer de
intestino (um laboratório dos EUA tentou comprar mas foi proibido pelo governo
Bush), as vacinas contra a meningite, etc. Antes da Revolução, Cuba sequer
possuía indústria farmacêutica; hoje exporta medicamentos, ciência, e médicos.
Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares... Esta mesma mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.
Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares... Esta mesma mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.
No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu
setor de medicamentos quase totalmente controlado e ocupado por umas poucas
multinacionais farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia, ambos lutando
para não perder o controle do mercado para as vacinas cubanas, que o governo
Sarney acabou importando em grande quantidade, apesar da pressão dos
oligopólios. E era também uma operação ideológica, com a intenção de dizer que
era impossível que uma ilha pequenina, cercada de hostilidades imperiais por
todos os lados, pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter
alcançado tal êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em
exportadora de sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia
muitas vezes superior, era ainda dependente de sua importação.
Sarney e
as vacinas cubanas.
A ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na
época – questionando até sua eficácia terapêutica, apesar dos reconhecimentos
da Organização Mundial da Saúde - era uma desumana tentativa de intimidar o
governo Sarney que, não apenas reatou com Cuba, mas começou a realizar um
processo de intercâmbio comercial, científico e cultural com a Ilha. Vale
citar, o ministro da Cultura de Sarney era o inesquecível Celso Furtado... O
discurso da mídia então, submisso aos ditames imperiais, queria também impedir
a criação do Mercosul, cujo fortalecimento posterior e sua consolidação hoje, é
algo que desagrada enormemente aos inimigos da integração, pois é evidente que
um Mercosul cada vez mais forte e amplo, com a entrada da Venezuela e,
proximamente, da Bolívia e do Equador, representa uma alternativa histórica
real aos “Cem Anos de Solidão” de uma América Latina antes submissa e desunida
e, agora, em processo de transformação , com governos populares e com uma
cooperação cada vez maior com Cuba. Estamos abrindo as páginas dos Cem Anos de
Cooperação...
Desintegração
e fracasso histórico
É este processo de integração crescente o alvo da
passagem da blogueira por aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme
fracasso Ela se auto classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber
tratar-se de uma diplomata da desintegração. Como pano de fundo, o que ela e
seus patrocinadores visam é obstaculizar a causa maior de nossas mais
importantes lideranças históricas, a começar por Simon Bolívar, José Marti,
Tiradentes, Abreu e Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara, hoje continuados,
concretamente, pelas políticas de integração implementadas pelos governos de
Lula-Dilma, Fidel-Raul, Hugo Chávez, Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e
Cristina Kirchner, Daniel Ortega e o recém reeleito Rafael Correa.
Dalai
Lama
Personagens como Yoani Sanches são criados em
determinados momentos, recebem as condições materiais e financeiras de
circulação, publicidade e exaltação, mas produzem, concretamente, poucos
resultados práticos. Citemos outro personagem fabricado para uma operação
similar contra a Revolução Chinesa: Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo
Departamento de Estado dos EUA, que além do salário lhe garante o apartamento
onde vive perto do Central Park de Nova York, e de uma jorrante publicação de
seus livros, Dalai Lama revela-se um retumbante fracasso. Antes da Revolucão
Chinesa, o Tibet era um regime feudal e escravocrata. O Brasil não foi o último
país a abolir a escravidão, foi o Tibet, e por meio de uma revolução dirigida
por Mao-Tse Tung e o Partido Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a
China era conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.
Além disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o
povo sequer conhecia médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e
mulheres como servas, já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar
das inúmeras giras de Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar uma
nave tripulada ao espaço sideral, por ser a economia que mais cresce no mundo,
que mais fabrica computadores e turbinas de energia solar, que lança satélites
em parcerias com a Venezuela e o Brasil, que legalizou e socializou a
acupuntura (antes de Mao era proibida) e que, em parceria com a Rússia e o
Iran, está travando os planos da Otan de invadir e esquartejar a Síria. O que
se houve falar de Dalai? A notícia mais recente é que ele estaria disposto a dialogar
com as autoridades chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que
mudar-se do Central Park...
Cuba
inclusiva?
A blogueira falou em Brasília que quer uma Cuba
mais inclusiva e plural. Se examinarmos a realidade cubana, especialmente as
estatísticas elaboradas ou reconhecidas por instituições internacionais como a
Organização Mundial da Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organizaçao Panamericana de
Saúde e se a mídia comercial, que tanta exalta a Yoanis, desse ao povo
brasileiro o direito de conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma
sociedade tão inclusiva como a cubana. A começar porque não existem nela
crianças vagando pelas ruas, crianças fora da escola, crianças pedindo esmolas,
nem crianças trabalhando.
A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica foram salvos, como revela o Occupy Wall Street. Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes que trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, embora tivessem sido condecorados com heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmos que já trataram, depois da eleição de Chávez, um total de 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão...
A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica foram salvos, como revela o Occupy Wall Street. Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes que trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, embora tivessem sido condecorados com heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmos que já trataram, depois da eleição de Chávez, um total de 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão...
Aliás, se o povo brasileiro pudesse ser informado,
massivamente - digamos quecom 10 % do que a TV Globo mostra de baixarias do Big
Brother, onde há z até edificantes concursos de pum - sobre um único relatório
da UNICEF em que se afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no
mundo hoje. Nenhuma delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos
ditos por esta personagem.
Bloqueio
Houve um tempo em que os opositores de Cuba, inclusive
a blogueira, diziam que o bloqueio dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel
para desviar a atenção dos problemas internos. Agora, quando o bloqueio recebe
múltiplas condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões
óbvias de subordinação pelo Canadá, Israel e uma ilha desconhecida do Pacífico,
sendo criticado, até mesmo, pelo New York Times e pela Revista Forbes, a
blogueira, foi orientada a mudar o discurso e já admite ser contrária a esta
escandalosa violação dos direitos humanos do povo Cuba por parte da Casa
Branca, proibindo à ilha uma simples operação comercial para a compra de
aspirinas no mercado norte-americano.
Aliás, ela disse também ser a favor da libertação
dos 5 heróis cubanos prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na
prevenção de atentados terroristas organizados em território da pátria de Jack
London. Alertado por Fidel Castro, em carta entregue pelo genial Gabriel Garcia
Marques, o presidente Bill Clinton, ao invés de fazer uso das informações para
evitar atentados terroristas que estavam e organização, como os de Oklahoma ou
os de 11 de setembro de 2001, preferiu... prender os cinco cidadãos cubanos.
Agora que até a blogueira já fala no fim do
bloqueio, dando razão ao governo de Cuba, e também a Lula e Dilma que sempre se
pronunciam em defesa da posição do governo cubano, vale comparar a situação
vivida por Yoani Sanchez - que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro
a partir de Cuba ou fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a
Revolução Cubana - com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning,
preso e torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo,
corajosa e generosamente, com a ajuda do Wikeleaks, os documentos sigilosos
contendo os planos mais sinistros do imperialismo para atacar e desestabilizar
vários países e governos ao redor do mundo. Ou comparar com a situação de Mumia
Abu Jamal, jornalista e militante negro, preso no Corredor da Morte nos EUA,
condenado injustamente por um juiz racista que coleciona sentenças de pena de
morte especialmente para negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por
lá. O “delito” de Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime
discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia por
satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso discurso da
liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom, eles já haviam
proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá...
Medicina
e humanismo
Tive a oportunidade de visitar a Escola Latino
Americana de Medicina (ELAM), instalada numa antiga base naval desativada
próximo a Havana e lá conversei com representantes dos mais de 500 estudantes
negros estadunidenses, oriundos dos bairros pobres do Harlen ou do Brooklin.
Eles me contaram que jamais teriam a oportunidade de se formarem em medicina
nos EUA, sendo muito mais provável, pelas condições precárias de vida que
tinham lá, que fossem recrutados pelo narcotráfico e terminassem presos. Ou
mortos na juventude. Aliás, os EUA possuem a maior população carcerária do
mundo... Em Cuba, estes jovens estão estudando, gratuitamente, para serem
médicos.
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o que tem, não o que sobra
Ante aos agressivos ataques do Pentágono e da Cia
contra a Revolução Cubana, esta se defende, legitimamente, mas também reage com
humanismo, oferecendo aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de
escapar da criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano, a quem
se respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira dos EUA em
território cubano. Enquanto a Casa Branca envia terroristas e guerra
bacteriológica contra Cuba – como denunciou um ex-ministro da saúde dos EUA –
Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano! É a este país, que
reparte seus modestos recursos orçamentários com outros povos, que a blogueira
acusa de não ser inclusivo?
Vale lembrar o desastre do Furacão Katrina:
enquanto a população negra e pobre estava abandonada em Nova Orleans, pelo
governo de Bush, Cuba ofereceu o envio imediato de 1200 médicos para salvar
vidas ali. Eles ficaram toda uma manhã posicionados no aeroporto de Havana
esperando autorização da Casa Branca para embarcarem para os EUA. A autorização
nunca veio. E a blogueira, que reivindica uma Cuba inclusiva, não toca no tema.
Cuba
plural?
Houve um ano, 1984, em que a Unesco reconheceu ter
Cuba batido um recorde na publicação de livros, que lá são vendidos a preços de
um picolé ou menos. Foram 48 milhões de exemplares publicados naquele ano.
Entre estas obras há Guimarães Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares,
quando no Brasil, com um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de
apenas 3 mil exemplares. Em Cuba há o mais amplo acesso à literatura universal,
ao cinema internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos
baratos e salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre a
Coluna Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma grande
produção cinematográfica sobre o tema.
Como seria educativo se a presidenta do Instituto
do Livro Cubano, Zuleika Romay, uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do
espaço televisivo que foi dado à blogueira para desprestigiar a Cuba, inclusive
quando afirmou que concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que
revela seu pensamento nada inclusivo. Serviços privados só são acessíveis a
quem paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a saúde são
públicas e gratuitas. Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha, sentiu-se mal e
foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis pagar, recebendo como
resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e que isto não se vende.
Cuba,
Brasil e Haiti
Quando a tragédia do terremoto assolou o Haiti - um
geólogo cubano havia alertado, anos antes, que eram altíssimas as probabilidades
de um terremoto com epicentro cerca de Porto Príncipe - os médicos cubanos já
eram responsáveis há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço de
saúde ali ante tanta miséria construída pelos países imperiais que dão
sustentação à blogueira. O Brasil também estava lá, com o maior número de
soldados, que também realizam obras de infraestrutura. Mas, a partir do
terremoto Brasil e Cuba passaram a colaborar mais centralmente na área da
saúde, e, com um financiamento de 80 milhões de dólares do governo brasileiro,
foram construídas instalações de saúde para o povo haitiano, no qual trabalham
as centenas de cubanos que já estavam lá há anos, juntamente com médicos
militares brasileiros. Como parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão
de Engenharia do Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além de
rodovias e pontes.
Impublicável:
cooperação sul-sul-sul
Em 2006, a Organização Mundial da Saúde, lançou um
SOS Internacional: precisava de produção massiva, a preços baixos, de vacina
contra meningite A e C para entregar a 23 países da África, onde vivem 430
milhões de seres humanos. Só uma empresa transnacional fabricava estas vacinas,
mas devido à baixa lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África sob
o risco de emergência sanitária. Só dois laboratórios públicos atenderam ao
chamado da OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do
Brasil. Os dois se associaram para a criação da vacina Vax-MEN-AC, específica
para os tipos de meningite que afetam a África. A cooperação Brasil-Cuba
permitiu um preço 20 vezes menor do praticado pela transnacional e já foram
produzidas e entregues 19 milhões de doses.
Esta é uma notícia impublicável nos grandes meios
que abrem todo espaço à blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas
pela Fundação do Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por
operações de marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em
atender ao apelo da OMS. Brasil e Cuba, com governos de orientação de esquerda,
por meio de laboratórios públicos, fazem mais contra a meningite na África que
as transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A blogueira não fala nada disso no
seu blog, nem nas suas entrevistas, mas pede uma Cuba mais inclusiva e plural.
Cuba,
Brasil e Timor Leste
Em visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV
Cidade Livre de Brasília e o Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor
doaram os equipamentos de uma rádio comunitária às organizações educacionais
locais, pude visitar, também, o alojamento de 400 médicos cubanos que lá
trabalham em solidariedade ao povo maubere. Comentei a visita com o Presidente
da República, Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, que recebia o Presidente Lula.
Ele me contou que ter sido pressionado pelo Embaixador dos EUA lá a não receber
os médicos de Cuba, oportunidade em que perguntou ao gringo: “Quantos médicos
norte-americanos temos aqui?”. “Só um, o da embaixada!”, respondeu. “Pois então
o povo do Timor é muito grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”,
disse-lhe Horta.
O pensamento da blogueira é bastante sintonizado
com o do embaixador gringo e certamente não considera inclusivo que na
cooperação Brasil e Cuba, os 600 estudantes timorenses que serão formados em
medicina na Ilha brevemente, antes de voltar ao Timor, façam estágio na
Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, na área de medicina tropical.
Como se sabe, a cooperação não fica por aí. O
Brasil está estudando a contratação de um numeroso contingente de médicos
cubanos para, finalmente, levar serviços médicos a todos os municípios
brasileiros, o que ainda não ocorre. Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros,
em sua maioria pobre, inclusive, uma centena de jovens do MST, que lá estão
estudando medicina. Gratuitamente, pois Cuba, desde o início de sua Revolução,
compartilha com outros povos não apenas o que lhe sobra, mas o que tem.
Complexo
de Mariel: integração para todos crescerem
Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua
gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto
de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o
maior porto de todo o Caribe, dinamizando a economia de toda a região, além
contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma mineradora. Os empréstimos do BNDES
são da ordem de 1,2 bilhão de dólares. Desnecessário afirmar que, na prática
significa, também, furar o bloqueio dos EUA contra Cuba, indicando apurada
visão estratégica de Lula, e, além disso, uma ideia clara do que significa uma
integração para que todos os países possam crescer juntos, reduzindo as
assimetrias e comprovando a política de que só por meio da integração da
América Latina e Caribe é possível constituir uma área alternativa de
crescimento com distribuição de renda. A blogueira está na contramão deste
projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela mídia oposicionista -
e por seus seguidores - que tem visto este projeto ser derrotado nas urnas
repetidas vezes, como recentemente no Equador, na Venezuela e na Bolívia, que
recém nacionalizou os serviços portuários ante a negativa de investimentos de
transnacionais espanholas.
Mandela:
devemos o fim do apartheid a Cuba
Foram ouvidos muitos disparates durante a gira da
blogueira no Brasil. Algumas manifestações normais e democráticas de jovens e
estudantes contra sua presença, foram tratadas como se fossem violentas. Nenhum
país é mais criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o
problema não são as críticas, elas são permitidas até à própria blogueira. A
questão é a violência com que sempre foi tratada a Revolução Cubana desde o
início pelo imperialismo, sendo obrigada a pagar um preço amargo, com muitas
vidas ceifadas em atentados terroristas como o que derrubou o Avião da Cubana
de Aviación, sendo seus autores confessos protegidos pelos governos dos EUA.
Que também protege a blogueira.
Mas, entre todos os disparates, o mais
surpreendente foi contorcionismo analítico de um editorialista do Estadão que
chegou a fazer uma comparação, meio envergonhada é bem verdade, de Yoani
Sanchez com Nelson Mandela. Diante do nível desta tentativa absurda de
analogia, uma resposta grande com uma página da História. Cuba enviou cerca de
350 mil homens em mulheres para lutar em Angola em defesa da independência do
país, invadido pelo exército racista da África do Sul, contando com o apoio dos
EUA e com a oferta de Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as
tropas cubano-angolanas. A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável
na história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar contra o
apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos tempos
modernos! Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na Batalha de Cuito
Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão, cunhou uma frase que
define com a energia de um raio, a função histórica de Cuba: “ A Batalha de
Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos isto a Cuba”.
Diante dos ataques da mídia contra Cuba, Dilma , em
Havana, reagiu apontando os telhados de vidro dos que querem ser campeões em
direitos humanos mas mantém um centro de torturas em Guantânamo e multiplica o
assassinato de civis, inclusive crianças, por meio de seus drones macabros.
Enquanto isto, o Brasil segue aprofundando sua cooperação com Cuba e
consolidando a integração solidária e democrática por meio do Mercosul, da
Unasul e da Celac, presidida por Cuba, com sua generosidade e humanismo, e sem
a presença arrogante e imperial dos EUA. A diplomata da desintegração, aqui no
Brasil, está fadada ao fracasso.
Beto Almeida é jornalista,
membro da Junta Diretiva da Telesur. Publicado em Carta Maior em 23/02/2013
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