Propor um Plano “B” é
simplesmente burrice ou fazer o jogo dos golpistas?
É claro que não estou
falando do cidadão comum, aquele que está angustiado com a aproximação da
eleição e gostaria de ter logo um quadro definindo. E estou incluindo no
conceito de “cidadão comum” o que se interessa por política e a acompanha pela
grande mídia.
Essa grande quantidade
de brasileiros gostaria de votar em Lula, vê no seu nome a esperança de superar
a terrível situação a que chegou o Brasil, mas acredita no que lhe diz a grande
mídia: “Lula não pode ser mais candidato”.
Renomados juristas
brasileiros afirmam que Lula poderá obter o direito de ser candidato a
presidente da República neste ano, jogando por terra todo o esforço de
diferentes instâncias judiciais para que ele esteja fora da disputa.
Aliás, a participação
de presos em disputas eleitorais não é novidade no Brasil. O caso mais citado é
o do prefeito de Unaí, o fazendeiro
Antério Mânica (PSDB), acusado de ser o mandante do assassinato de quatro funcionários do
Ministério do Trabalho (2004) que faziam uma fiscalização de rotina em fazendas
da região. Pois Mânica saiu da prisão para o mandato conquistado em eleição de
que participou. Mas, desde o ano 2000, pelo menos oito vereadores e prefeitos
foram eleitos quando estavam presos.
No caso de Lula, a
proposta de um Plano “B” é uma tática política de seus adversários, impotentes
diante da incrível resistência do seu nome.
Há alguns anos, Lula
não tem acesso a um mísero segundo de horário de TV em que possa fazer o
contraditório, defender-se das acusações derramadas diariamente como verdades
inquestionáveis em programas de TV, de rádio, noticiários e artigos veiculados
em jornais, revistas e portais de internet mantidos pela grande mídia. Aliás,
nem mesmo os seus aliados têm a oportunidade de questionar tais acusações.
Realizações de seus
dois governos – e mesmo de sua sucessora Dilma Rousself – não são lembrados na
grande mídia. Até os programas de partidos em rádio e TV, onde isso poderia ser
feito ao menos pelo PT, não ocorrem mais.
E daí? Pesquisas de
opinião pública se sucedem e Lula continua dando um banho em todos os
adversários. Nem adiantou colocarem Lula entre quatro grossas paredes da fria
Curitiba, cidade com maioria antipática ao seu nome. Na recém-anunciada pesquisa
da CNT/MDA, volta a dar uma surra em todos outros pretendentes. Nas simulações
de possíveis nomes que disputariam com ele o segundo turno, o nome mais próximo
seria derrotado por uma margem de 19,8%.
A pesquisa vai além e
mostra que, sem o seu nome, entre 13,8% a 16,5% deixariam de votar, elevando a
abstenção para alarmantes 45,7%!
Vocês já imaginaram se
fosse concedidos a Lula (ou seus aliados) ao menos 1/10 do tempo utilizado na
mídia para atacá-lo?
Alguém pode avaliar que
são justamente esses ataques que mantêm Lula no topo das pesquisas. Seria uma
espécie de reação popular ao seu espancamento pela mídia. Mas é óbvia a dedução
de que os ataques se repetem para que não se reduza a rejeição à sua
candidatura, abrindo-se o espaço para que chegasse efetivamente a representar a
alternativa para muito além da metade da população.
O nome de Lula está
atravessado na garganta dos golpistas e, por isso, eles consideram indispensável
que ele seja afastado, sendo substituído por quem não tenha a mesma imagem carismática.
Mas há algo além disso.
Lula conseguiu uma proeza que jamais seria imaginável neste momento pela
direita brasileira. Não se dizia tanto que “a esquerda brasileira só se une na
cadeia”?
É verdade que isso foi
desmentido pelo segundo turno da eleição presidencial de 1989. Mas ali a
realidade era absolutamente diferente. Afinal, não havia eleição parlamentar
para problematizar a unidade e, sendo segundo turno, havia uma polarização
clara entre a esquerda e a direita. Todo o campo do centro até a esquerda
migrou com os seus votos para Lula, enquanto a direita se concentrou em torno
de Collor.
Não é possível deixar
de considerar que Lula funciona hoje como uma espécie de “blindagem” para os
demais nomes da esquerda. Mantém-se como o foco do combate midiático e, assim,
os demais candidatos da esquerda deixam de ser os objetos de perseguição pela
mídia conservadora.
Mas o principal, do
ponto de vista tático, é que Lula, no período que antecedeu a sua prisão,
trabalhou caprichosamente com os demais partidos do espectro da esquerda uma
unidade que está assegurada por dois tipos de argamassa: a existência da
candidatura dele e o fato de estar preso.
Explico. Por enquanto,
ele é visto como uma espécie de concorrente sem que seja competidor por PSOL e
PCdoB, que também já têm lançaram Guilherme Boulos e Manuela d’Ávila como
candidatos.
Os dois partidos têm a
clareza que a eleição poderá exigir deles e do PT a concentração em torno de
uma só candidatura ou pelo menos uma unidade programática para os três.
Mantido o seu nome, os
índices de preferência ficam com o próprio Lula, mas isso assegura que
permanece no campo da esquerda. Não se esvaem para quem tente se colocar como
alternativa. Leia-se: Joaquim Barbosa, que acaba de desistir, e Marina Silva. O
outro, ocasionalmente insinuando-se na situação de possível herdeiro é Ciro
Gomes.
Caso Lula consiga reverter as
expectativas da direita e disputar efetivamente a eleição, esses votos serão
seus. Em caso contrário, chegaremos às vésperas da eleição com os votos
consolidados como da esquerda e ele poderá indicar o sentido da migração. Como
se deu em 1989. Para Boulos? Para Manuela? Para um nome alternativo do PT?
Talvez um nome que congregue todas essas forças.
A única certeza é que, caso Lula
fizesse agora a indicação de seu herdeiro, a unidade da esquerda estaria fadada
à desagregação, mantidos vários candidatos
que concorreriam entre si. Tudo o que pode interessar a uma direita que não
consegue produzir um nome minimamente viável.
Por isso, não é Lula
que insiste em manter-se candidato, mas a direita que insiste em afastá-lo da
disputa e destruir essa unidade indispensavelmente estratégica da esquerda.
Fernando
Tolentino